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Daniela Ruah: “Ser uma mulher forte não significa não ter vulnerabilidades”

daniela ruah

Aos 34 anos, a atriz é a maior referência lusa em Hollywood, há muito catapultada ao estatuto de estrela. De regresso a Portugal, para marcar presença na edição lusa do Comic Con, Daniela Ruah fez uma retrospetiva de uma carreira de sucesso, mostrando que cresceu, mas não perdeu muita da essência com que se revelou, em 2000, em “Jardins Proibidos” na TVI.

Passaram-se 17 anos e, a trabalhar há muito na América, não sabe muito o que mudou em termos de representação em território nacional, embora reconheça que por lá há direitos que ainda não chegaram cá. “Nos Estados Unidos temos um sindicato muito forte que defende os atores, somos pagos pela repetição de episódios que é uma coisa que aqui não acontece ainda, e temos regras que têm que obedecer, ou seja, temos que ter 12 horas entre o final de um dia de trabalho e o início do dia seguinte, se não têm que pagar uma multa. Portanto, temos essa proteção. Nas novelas portuguesas também fazemos 35 a 40 cenas por dia, enquanto numa série americana contabilizam por páginas e não por cenas e fazemos, por dia, cerca de 9 paginas. Agora, imaginem 35 cenas são, mais ou menos, 50 páginas. Portanto é uma fábrica de produção as novelas e connosco as coisas têm o seu passo, mas andam um bocadinho mais devagar”, explicou.

Quando se mudou para o país das oportunidades, Daniela Ruah já tinha outra maturidade, já tinha saído de casa dos pais e vivido em Inglaterra, além de ter já a responsabilidade de pagar as próprias contas, por isso as coisas aconteceram por querer e saber o que estava a fazer: “Soube que estavam à procura da personagem através de um anúncio na televisão, que é uma coisa que não fazem cá. Nos Estados Unidos, tive que me tentar inserir o mais possível dentro de um oceano de outras raparigas da minha idade e que são parecidas comigo. Foi um bocadinho estar no sítio certo na altura certa”.

E assim acabou por ganhar o papel de agente Kensi Blye com uma ponta de sorte, mas também determinação. “Fiz por isso, sai de casa. Inscrevi-me na escola que é o melhor sítio para conhecer pessoas, tive conhecimento de quais são as melhores agências, comecei a mandar coisas, mas nem me consigo lembrar bem como foi o trajeto”, sublinhou.

Aos 26 anos, a luso-americana soube que tinha sido escolhida para o papel em “NCSI Los Angeles” minutos após castings em Los Angeles, numa altura em que já vivia em Nova Iorque. Estava à espera do táxi que a levaria ao aeroporto, quando a diretora a parabenizou, confirmando que ela tinha agarrado o papel. Reação: “Liguei logo para a minha mãe, eram duas ou três da manhã em Portugal”.

Representar o melhor possível para as gerações mais novas é o objetivo, “mas ser uma mulher forte não significa não ter vulnerabilidades, os nossos momentos de fraqueza, mas sim como ultrapassamos os problemas da nossa personagem”. “Ficamos arrasadas e fica por aí a história ou voltamos a reconstruir-nos e a continuar a lutar por aquilo que a personagem quer. Temos que ser humanos, todos temos emoções e é importante essa variedade nas personagens”, destacou.

Fazer cinema é algo que gostaria, mas sente-se “plenamente preenchida a fazer séries”. Em comum com a famosa Kensi tem “a cara”, brincou, embora a personagem tenha deixado o lado apenas sério da fase inicial, acrescentado uma faceta mais divertida que é mais o que a descreve.

O futuro passa pelos Estados Unidos pelo menos enquanto durar o contrato com a série, além de que o marido, David Paul Olsen, é americano, os filhos, River Isaac, de quatro anos, e Sierra Esther, de um, também nasceram em terras de Tio Sam, embora, tal como a mãe – que veio ao mundo em Boston -, tenham dupla nacionalidade “e em casa se fale português”. E, por cá, Daniela Ruah, tem projetos planeados para 2018 que promete revelar no Ano Novo.

Numa altura em que tanto se falta em assédio e em que todos os dias há mais nomes de Hollywood visados, Daniela lembrou que “não é só no meio cinematográfico, mas sim em todos os meios que há”, congratulando-se por nunca ter sentido na pele algo semelhante: “Graças a Deus, nunca passei por uma situação dessas, nem nunca assisti, pois se tivesse assistido teria feito alguma coisa em relação ao assunto e teria apoiado a mulher em questão. Acho que temos que falar nisso e é importante todas as mulheres se juntarem-se agora e ganharem força uma nas outras”.