Atualidade

O papel ativo e polémico de Donald Trump no 11 de setembro

Há precisamente 16 anos, o na altura magnata da construção civil diz que viu um avião embater contra uma das torres do World Trade Center quando estava no seu escritório de Nova Iorque.

Isso e o facto de ser um entendido da construção, especialmente na ‘Big Apple’, fez com que Donald Trump fosse um dos profissionais mais entrevistados na altura do 11 de setembro.

E o atentado terrorista é algo que o ‘persegue’, muito devido às declarações polémicas que já fez a seu respeito.

Além de ter dito que com a queda das Torres Gémeas, o seu edifício ‘The Trump Building’ passou a ser o mais alto de Manhattan, e de ter garantido ter visto americanos muçulmanos em Nova Jérsia (perto de Nova Iorque) a celebrar com a destruição do WTC, também disse que perdeu “centenas de amigos” nos ataques – sem que nunca tenha identificado qualquer nome – e que doou muito dinheiro para fundações de caridade relacionadas, ainda que nunca tenha mostrado essas provas.

Vamos por partes.

Primeiro, as reações de Trump ao atentado onde morreram 2996 pessoas.

Numa entrevista em direto para o canal de televisão local WWOR/UPN 9 News, falou do seu prédio que passou assim a ser o mais alto de Nova Iorque e que fica a cerca de seis quarteirões do WTC, o que era inacreditável (não propriamente pelo ‘feito’ em si, mas sim por ser chocante o desaparecimento das Torres Gémeas, ainda que a forma como se expressou não fosse a melhor até porque a pergunta foi sobre o que ele teria aprendido com a devastação).

Nessa mesma entrevista o repórter salientou que, em 2000, Donald Trump já pensava candidatar-se à Presidência e por isso perguntou-lhe o que faria, caso tivesse avançado. “Isto não pode ser tolerado”, respondeu o atual Presidente dos EUA, referindo ainda que tomaria medidas sérias e duras.

“Estes edifícios eram muito sólidos”, adiantou, afirmando mesmo que alguém deve ter posto “bombas nos aviões” para a destruição ser maior.

Dois dias depois dos ataques, Donald Trump voltou a ser entrevistado. Falou do que encontrou no Ground Zero, zona onde estavam as Torres Gémeas, do perigo que se sentia lá pois os edifícios em redor corriam risco de derrocar e insistiu que foi a primeira vez que ele e outros profissionais da construção viram algo deste género.

“Nunca vi tantos corpos. Uma coisa positiva é quando se encontram sobreviventes, como os cinco bombeiros que encontraram agora”, disse à repórter da NBC News, acrescentando que tinham de reconstruir as torres porque já viu a zona de Manhattan a partir do céu e não a reconhecia sem aquelas.

Mais tarde, Trump angariou 150.000 dólares para 40 Wall Street, morada do seu prédio que passou a ser o mais alto de Nova Iorque. O dinheiro chegou através de um programa de recuperação do Estado destinado a ajudar pequenas empresas após o 11 de setembro, o que não era de todo o caso de Donald.

Em abril de 2016, ele falou sobre isso e afirmou que os fundos eram “provavelmente um reembolso pelo facto de eu permitir que pessoas, por muitos meses, ficassem no prédio, usassem o prédio e armazenassem coisas no prédio”.

The Trump Building na 40 Wall Street em Nova Iorque

Quanto ao dinheiro que diz ter dado para ajudar na recuperação e às instituições de caridade, continua a ser uma questão em aberto, embora o ‘Washington Post’ tenha investigado sobre o assunto e dito que não há registos que Trump tenha feito donativos ao Museu do 11 de setembro.

Segundo o jornal, Trump tem dado exclusivamente o dinheiro de outras pessoas desde 2008. E estamos a falar de 100 mil dólares.

Já um porta-voz da campanha eleitoral do antigo candidato republicano disse ao ‘Daily Mail’ que aquele tinha dado “um total de 102 milhões de dólares” para “centenas de fundações de caridade durante um período de tempo relativamente curto, muitas das quais ajudaram as pessoas afetadas pelo 11 de setembro”. No entanto recusaram-se a mostrar essas declarações fiscais.

O magnata sempre teve muitas ideias e opiniões sobre o 9/11.

Em 2005, encerrou a sua participação na reconstrução da área atingida e provocou uma polémica ao dizer que as novas torres “não deveriam ser construídas” por causa do seu “terrível design”, após o projeto que ele defendia, o de o de construir torres semelhantes e um pouco mais altas do que às que existiam antes, ser rejeitado.

“Eu preferiria ter nada do que eles estão a construir”, disse Trump ao jornalista Chris Matthews da MSNBC.

“É um design terrível. Foi projetado por um arquiteto cabeça de ovo que realmente não tem muita experiência em projetar algo assim. E é um design desagradável com o qual teremos que viver muitos anos em Nova Iorque… Se fizermos este trabalho desta forma, os terroristas ganham”.

Terroristas que, segundo disse, nunca teriam feito o atentado caso ele fosse o Presidente. “Eu teria sido mais forte no terrorismo. Bin Laden teria sido apanhado há muito tempo, antes de ser finalmente detido, antes da queda do World Trade Center”.

Trump afirmou ainda que previu o ataque e contou isso no seu livro “The America We Deserve” (“A América Que Merecemos”), lançado em 2011.

Em 2013, fez outro comentário no Twitter ao oferecer os seus melhores desejos “para todos, mesmo os haters [os que o desprezam] e perdedores na data especial de 11 de Setembro”.

Isto porque foi criticado por dizer que perdeu “centenas de amigos” nos ataques, mas nunca os identificou nem lhes fez qualquer homenagem.

Já durante um debate republicano, contra Jeb Bush (irmão de George W. Bush, presidente dos EUA na altura do 11 de setembro), Donald Trump foi mais longe.

“Eles mentiram. Disseram que havia armas de destruição maciça e mentiram”, disse, referindo-se ao argumento que a administração deu para entrar em guerra com o Iraque após os ataques.

“Enquanto Trump estava a fazer reality shows, o meu irmão estava a fazer o que era necessário para nos deixar a todos seguros”, respondeu Jeb Bush.

No ano passado usou o facto de Hillary Clinton, sua adversária na corrida presidencial, ter desmaiado durante o memorial das vítimas para dizer e que aquela não tinha condições físicas para ser Presidente.

Este ano, 16 anos depois do atentado, o comandante-chefe da nação norte-americana ainda não escreveu nada sobre o assunto no Twitter. Apenas sobre o furacão Irma na Flórida (que curiosamente não associa às alterações climáticas, nem esse termo pode ser usado pelas autoridades que têm falado aos jornalistas). Resta-nos aguardar.