Álbuns da Semana

A loucura entre manter-se fiel a si mesmo e render-se à globalização

Ao ouvir o 12.º álbum de Eels, ‘The Deconstruction’, os críticos musicais têm dito que é: “mais do mesmo”.

“A desconstrução começou. É hora de eu desmoronar”, canta Mark Everett. Ele que descreveu o disco como uma reação a um “mundo que está a enlouquecer”.

A ‘Desconstrução’ abrange a sua própria recuperação de mágoa enquanto o vocalista e compositor se torna num novo homem (não propriamente um novo músico).

Mark tem uma mulher e, em ‘There I Said It’ e ‘Sweet Scorched Earth’ (‘Lá eu disse’ e ‘Doce terra queimada’), ela dá-lhe o poder e a perspetiva para ignorar toda a negatividade do mundo.

Ao estilo do ‘Mr. E’s Beautiful Blues’, do ano 2000, e ‘Fresh Feeling’, de 2001, o single ‘Today Is the Day’ deste novo álbum serve como um desdobramento da arma secreta de Everett, sugerindo mais uma vez que o snark (animal imaginário) é apenas uma capa para o seu verdadeiro eu, um romântico que pode ser conquistado com uma melodia pop.

Nada contra. E é, aliás, esse tema que destacamos esta semana.

Editado a 13 de abril, o sexto álbum de originais dos Dead Combo chama-se ‘Odeon Hotel’. Na capa está o Cinema Odeon, uma salas mais emblemáticas do País atualmente abandonada.

O nome é também uma referência aos hotéis que “são pontos de passagem”, realça Tó Trips, justificando assim o porquê deste álbum ser também “menos português” nesta lógica da “globalização e pela gentrificação”, que levaram também a cidade de Lisboa a mudar.

Gravado em Lisboa, nos Estúdios Namouche, entre outubro de 2016 e setembro de 2017, tem produção de Alain Johannes (que já trabalhou com nomes como Queen Of Stone Age, PJ Harvey e Chris Cornell), e por isso é a síntese perfeita da portugalidade e universalidade existentes na música da dupla.

Composto por treze músicas, o novo disco, contou com a participação de diversos músicos convidados na sua gravação, nomeadamente, Alexandre Frazão na Bateria, Bruno Silva na Viola D’Arco, Mick Trovoada na Percussão e João Cabrita nos Sopros. Alain Johannes também participou na sua gravação.

O cantor e compositor norte-americano Mark Lanegan dá voz a ‘I Know, I Alone’, um dos mais belos poemas escritos em língua inglesa por Fernando Pessoa.

Já ‘The Egyptian Magician’ é dedicado ao falecido Zé Pedro dos Xutos & Pontapés.

Pela primeira vez na história da banda, o disco será editado em todo o mundo. Talvez fruto da notoriedade que o som de Pedro Gonçalves e Tó Trips recebeu depois de aparecerem no programa ‘No Reservations’, do chef e escritor Anthony Bourdain, gravado em Lisboa e exibido em 2012.

Para divulgar o álbum, os músicos iniciaram este mês uma tour que se estenderá até 2019.

Esta semana destacamos o primeiro tema do disco que se chama ‘Deus Me Dê Grana’.

E eis que chegamos aos Unknown Mortal Orchestra. A banda de rock psicadélico originária da Nova Zelândia, mas que criou as suas bases em Portland, lançou ‘Sex & Food’.

Liderado por Ruban Nielson, o grupo prova agora que o ‘hype’ que mereceu em 2011, com a sua estreia, continua a existir.

Neste que é o quarto álbum, foram numa nova direção para construir um conjunto de músicas confusas/divertidas/que seguramente irão tocar muito durante o verão.

Em ‘Honeybee’, Nielson canta uma ode ‘groovy’ à sua filha: “Careful like an orchid / love survives forever / age of paranoia / don’t be such a modern stranger / oh angel.” (“Cuidadoso como uma orquídea / o amor sobrevive para sempre / idade da paranóia / não sejas um estranho tão moderno / oh anjo.”)

‘Major League Chemicals’ faz lembrar Jimi Hendrix a conquistar Woodstock; ‘American Guilt’ é deliciosa e carregada como os Black Sabbath; enquanto ‘Chronos Feasts On His Children’ evoca imagens tão sombrias como a pintura de Francisco Goya do século XIX a comer os filhos: “Chronos banqueteia-se nos seus filhos / como transformar carne de manga.”

Portanto uma mistura sinistra e imperdível num só trabalho.

O disco foi gravado em vários locais, incluindo Islândia, México, Nova Zelândia, Coreia do Sul e Vietname. Destacamos o tema ‘Everyone Acts Crazy Nowadays’ (Todos agem como loucos hoje em dia).