Cultura

Filipe La Féria estreia ‘As árvores morrem de pé’ com elenco de peso

O encenador leva à cena, a partir de quinta-feira, 11, a peça “As árvores morrem de pé”, de Alejandro Casona, numa produção que lhe leva “a alma e o coração”.

Sem revelar o orçamento, La Féria realçou que não tinha qualquer ajuda do Estado, “apenas uma pequena ajuda da fundação mutualista Montepio, que dá para os cartazes”.

Os atores, “alguns receberam metade do ordenado e outros só começam a receber quando a peça estrear”, disse o encenador que revelou que muitos dos adereços de cenas, como móveis ou candeeiros, vieram da sua residência.

A peça é protagonizada “grandes nomes do teatro” entre eles Eunice Muñoz, no papel de “avó”, que alterna com Manuela Maria, e Ruy de Carvalho, que alterna com João d’Ávila, sendo o restante elenco constituído por Carlos Paulo, Maria João Abreu, Hugo Rendas, Ricardo Castro, Paula Fonseca, Rosa Areia, João Duarte Costa, Patrícia Resende, João Sá Coelho, Pedro Goulão e Francisco Magalhães.

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Referindo-se ao dramaturgo espanhol Alejandro Casona (1903-1965), La Féria afirmou que era “um filósofo, com um teatro poético tal como [Federico García] Lorca, e com uma grande influência de [Luigi] Pirandello”, fazendo “um teatro dentro do teatro”.

O encenador realçou ainda o facto de “as personagens serem muito bem construídas”, e profetizou que “vão sempre apaixonar gerações e gerações de atores, como as [personagens de] Tennessee Williams”. “São feitas com uma estrutura tão forte, que os atores vão sempre apaixonar-se por este autor [Alejandro Casona]” realçando a importância dos atores e do autor: “O teatro pode ser feito sem encenador, pode ser feito sem cenários, sem dinheiro, como é o meu caso, mas não pode ser feito sem atores”.

Para La Feria, encenar “As árvores morrem de pé” é a concretização de algo há muito projetado a três: por si, por Ruy de Carvalho e Eunice Muñoz.

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A atriz veterana, que recentemente foi submetida a nova intervenção cirúrgica, afirmou hoje que “chegou a altura” de fazer a peça, apesar de a sua saúde “não ter estado muito brilhante”.

Eunice Muñoz, de 88 anos, que alterna este papel com a participação na novela ‘Impostora’ que estreará brevemente na TVI, não sabe ainda quando subirá ao palco do Politeama, em Lisboa, mas espera que seja “dentro de pouco tempo”.

“Tenho de estar em casa mais tempo a descansar, mas, de qualquer modo, tenho muita satisfação em estar aqui, em ser dirigida por ele [Filipe La Féria], e ter estes colegas lindíssimos, e saber perfeitamente que a Manuela [Maria] vai interpretar maravilhosamente este papel”, justificou.

Manuela Maria, por seu turno, afirmou que alternar o papel com “a grande Eunice”, que tanto admira, e que considera ser “a nossa melhor atriz”, “é um atrevimento” e “uma grande honra”.

Eunice Muñoz afirmou que tinha “muitas saudades desta peça”, que viu muitas vezes interpretada por Palmira Bastos (1875-1967), que apontou como sua mestra.

“Ela [Palmira Bastos], aos 80 anos, sabia os papéis antes de nós, e dizia muito surpreendida: ‘Então vocês ainda não sabem os papéis? Mas se já sei…'”, afirmou nostálgica lembrando as vezes que foi dirigida pela malograda atriz: “Era uma mulher encantadora e muito talentosa”.

La Féria recordou igualmente a sua memória de menino, de ter visto Palmira Bastos protagonizar esta peça, no demolido Teatro Avenida, em Lisboa, e quando foi transmitida pela RTP, em 1966, “em que o país parou, do Minho a Vila Real de Santo António”.

Nesta encenação, João d’Ávila alterna o papel com Ruy de Carvalho, que hoje se referiu à peça como “uma história maravilhosa”.

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“É uma história saborosa que sabe bem a um ator representar, e a uma companhia. Uma peça que traz alguns conselhos. Ajuda-nos a viver melhor e a saber que alguém se preocupa connosco, assim como não se preocupam com o teatro em Portugal. Eu gostava que se preocupassem com o teatro em Portugal, como nós nos preocupamos com as peças, e com o serviço público que fazemos”, afirmou Ruy que completará 90 anos, dentro de sete meses.

“Estou a dizer isto porque me magoa muito pensar que uma companhia como esta não tem o apoio do Estado. Não têm o orgulho de terem uma companhia como esta a funcionar em Portugal, e isso toca-me profundamente. Há pouco orgulho na qualidade dos portugueses, e sobretudo naqueles que praticam a cultura”, justificou o veterano ator.