Saúde & bem-estar

Sorriso não é sinónimo de alegria

Pode ser o fim de tudo o que dávamos como certo. O sorriso não é sinónimo de alegria. Pelo menos não para todos. Depende de cada cultura. A teoria de que as expressões faciais associadas às emoções são universais e determinadas pela origem biológica foi agora contestada.

Tudo devido à descoberta de uma equipa de investigadores da Universidade Autónoma de Madrid, em Espanha. O estudo mostra que há um povo na Papua Nova Guiné, no Pacífico Sul, Oceania, que não associa um sorriso à sensação de alegria.

Nalgumas aldeias das ilhas Trobriand o sorriso é “interpretado como um convite social, como a magia da atração”, explicou o psicólogo José Miguel Fernández Dols, líder da investigação.

Aquela comunidade sempre foi muito associada à promiscuidade e à liberdade sexual, por isso pode haver agora uma causa.

A equipa de Dols estudou os rostos de dezenas de pessoas em várias situações como, por exemplo, atletas olímpicos a receber a medalha de ouro, pessoas a ter um orgasmo, lutadores de judo a ganhar as suas provas, adeptos de futebol a festejar e até de toureiros em plena arena.

De seguida mostraram a 68 crianças e adolescentes das ilhas Trobriand seis fotografias com expressões típicas de alegria, tristeza, raiva, medo e nojo, assim como um rosto neutro. E fizeram o mesmo a 113 jovens residentes em Madrid.

Em Trobriand, apenas 58% dos participantes associaram o sorriso à alegria, enquanto 46% ligou à tristeza, 31% com o medo, 25% no nojo e 7% na raiva.

Em Matemo, uma ilha perdida em Moçambique, os investigadores obtiveram resultados semelhantes. Na capital espanhola, a maioria dos participantes agruparam as emoções básicas com as suas supostas expressões faciais universais.

As conclusões a que chegaram, agora publicadas na revista científica JEP: General (Jornal de Psicologia Experimental), da Associação Americana de Psicologia, revelam que as expressões faciais, tal como o sorriso, são muito mais ferramentas de interação social do que uma simples representação de uma emoção básica interna.

“O conceito de emoção básica é popular mas não é necessariamente científico”, declarou Dols ao jornal espanhol ‘El País’.

“As expressões faciais são estratégias interativas. Por exemplo, as crianças, quando caem, só choram quando vêem a sua mãe”, explicou o psicólogo.

A ‘Teoria da Universalidade’, do psicólogo norte-americano Paul Ekman (assessor científico do filme ‘Divertida Mente’), defende que as cinco emoções – alegria, tristeza, raiva, medo e nojo – podem ser reconhecidas pelos 7400 milhões de habitantes do planeta Terra. Pelos vistos não é assim na Papua Nova Guiné.