Ver as notícias na televisão tem sido um teste à nossa insensibilidade. Eu chumbei.
Sou incapaz de assistir sem chorar e choro copiosa e impotentemente, porque me sinto mãe dos filhos dos outros.
Pudesse embalá-los nos meus braços a todos: aos pais, às mães e aos filhos. Pudesse eu decidir sobre o seu futuro e dar-lhes a paz por que tanto procuram. Pudesse poupar-lhes o sofrimento de morrerem encurralados no meio do sangue…
Não é esta gente toda filha de Deus? Não são eles feitos de carne, de sangue, de ossos? Não têm sentimentos? Não sentem fome, frio, sede? Estará Deus assim tão distraído ou precisará ele de mais anjos no céu?
Quando nascemos, nada escolhemos: nem pai, nem mãe, nem país ou continente. Somos fruto do acaso e plantados como sementes pela seara do planeta. Há terrenos inférteis e há os corroídos pelas epidemias. Pessoas que nem fugir podem. Encurralados no terreno em que foram plantados, só querem sobreviver. Carregam os filhos nos braços e os sonhos no coração. E apostam tudo nessa jogada, até a própria vida: a deles e a dos filhos.
Se os filhos deles fossem apenas um pouco nossos, o que faríamos? Se os filhos deles nos pedissem colo, o que lhes diríamos? O que seríamos capazes de fazer por eles? Até onde seríamos capazes de lutar?
As crianças, vítimas desta guerra, são filhas dos outros, mas são um pouco nossas também. Têm pés pequeninos, olhos inocentes, dedinhos delicados.
Pudesse eu embalá-las durante a noite escura e mostrar-lhes o sol brilhante e o céu azul assim que abrissem os olhos para o mundo.
Lúcia Vaz Pedro
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Lúcia Vaz Pedro
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