Off the record

Gonçalo Paciência: uma lição de resiliência de quem tem um legado de ouro

Jovem, bonito e talentoso. Estes são os predicados que saltam à primeira vista quando o foco é o filho do meio do treinador Domingos Paciência e que está de regresso ao FC Porto para vingar.

Mas, aos 23 anos, Gonçalo Paciência é muito mais do que se vê no exterior e, contam os mais próximos, que “tem um coração de ouro”, muito fruto da educação familiar e do papel primordial da mãe, Isabel.

Com uma relação muito próxima com os irmãos, João, o mais velho, e o único que não apostou no futebol, e o caçula Vasco, que já lhe segue as pisadas nos relvados, o craque não perde uma oportunidade de voltar a casa para se juntar ao clã.

Nos últimos meses, a jogar no Vitória de Setúbal, nunca deixou de dar um salto à Invicta nas folgas, e à sua Ribeira de eleição, algumas vezes na companhia da namorada, Nelma, com quem está há vários anos.

O ano passado o relacionamento passou por uma crise que depressa foi ultrapassada. De novo junto, o casal tornou-se inseparável, até porque a aspirante a jornalista tem estagiado por Lisboa, não se sabendo como será agora que o namorado retornou às bases de onde ela também é natural.

Em evidência na primeira parte do campeonato e melhor marcador na Taça da Liga, Gonçalo foi chamado agora a integrar o plantel portista, depois de ter andado emprestado nas últimas duas épocas e meia, passando mesmo pela Grécia, sempre sem nunca desistir de chegar mais longe e de se impor, até mesmo quando os ligamentos dos joelhos o obrigaram a parar.

Os adeptos já anseiam vê-lo de novo de dragão ao peito, e ele também não esconde a satisfação pela aposta, embora não tenha sido fácil despedir-se dos sadinos. Mas, “o futebol obriga-nos, por vezes, a ter de tomar decisões difíceis, porque, seja qual for a escolha, somos forçados a deixar para trás o que já é parte de nós”, escreveu nas redes sociais.

No entanto, “quem me conhece sabe que não poderia deixar de responder afirmativamente à chamada de Casa, o FC Porto, aquele que sempre foi o meu clube, mas sabe que o faço com a mágoa de quem deixa no Vitória uma missão inacabada e uma dívida de gratidão”, acrescentou, provando a humildade que lhe orienta a vida.

Reconhecido, a caminho dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em 2016, Gonçalo Paciência partilhou, no Instagram, uma fotografia de quando era criança, resumindo o orgulho em quem antes também representou Portugal. “A minha história começou no Porto, Portugal. Via o meu pai a jogar pela seleção. Agora é ele que me vê a mim”, sublinhou na legenda.

Contado desta forma, parece que o percurso foi fácil e que bastou o legado para o cumprir, mas como já referido, Gonçalo viveu várias vezes o pesadelo das lesões e até o coração resolveu assustar. Exames feitos em Londres, apenas lhe foi diagnosticada uma característica particular, que não compromete o futebol, e da qual também Domingos, o pai, já tinha sofrido.

Nas fases mais complicadas (e também nos bons momentos), a par da família, Gonçalo Paciência contou sempre com o apoio incondicional dos amigos de sempre, Diogo Baía, o filho, de Vítor Baia, Diogo Ally e Bernardo Pessoa, que se mantêm na fila da frente para o aplaudir.

Ultrapassados os problemas, o protagonista do momento não tem dúvidas de que “está mais homem”: “Há três anos, o Gonçalo era um menino que tinha o sonho de representar o FC Porto e assim o fez. Este Gonçalo já encontrou o caminho certo para se afirmar e para, de facto, estar num patamar superior. Esta é uma boa fase da minha carreira, depois de ter sido internacional e estar a fazer golos e boas exibições. Chego na melhor altura e numa fase em que tenho muito para mostrar”.

Descrito pelo seu ex-treinador José Couceiro como “um rapaz inteligente, independentemente das condições físicas e técnicas”, Gonçalo Paciência “vai chegar ao topo”, antecipam os mestres da bola que, nos últimos dias, têm passado o seu trajeto a pente fino.

Fotos: Redes Sociais e FCP