Off the record

Marta Garcia Tracana concretizou sonho para contrariar desemprego

A música é a grande paixão da professora que, ao fim de 14 anos de carreira, ficou sem emprego e teve que encontrar uma solução para sobreviver à crise e fazer o que gosta: ensinar música.

Marta Garcia Tracana deu aulas de Educação Musical no 2.°ciclo, até que acabaram as vagas para professores contratados. Além disso, “também na formação de professores, estava a fazer o doutoramento em educação musical e em estudos da criança, tudo ligado à formação e ao ensino da música. De repente, vi-me sem trabalho. Tanto investimento e deixei de ter o que fazer”, recorda.

Sem emprego, Marta arregaçou as mangas e, sem medo, apostou num outro caminho, abrindo um espaço onde o que acredita “fosse implementado”.

A Escola de Música Musicflat, na Rua do Padrão, n.º 67, em Pedroso, Carvalhos, foi inaugurada a 4 de maio de 2013, realizando o sonho da anfitriã.

“Foi uma boa aposta, embora o ano passado tivesse havido muitos momentos em que eu estava sozinha e não entrava nem uma mosca na escola. Fui-me abaixo muitas vezes. Começámos  com 6 alunos, no ano seguinte tivemos uma média de 30 e, actualmente estamos com 77,  alguns deles em várias disciplinas”, reconhece com entusiasmo.

Nos momentos mais frágeis, valeu-lhe o apoio do colega André Mariano “que é professor de bateria, percussões e está a assegurar também as guitarras, portuguesa, clássica e eléctrica”:   “Foi ele que disse “força, vamos”, que estava ao meu lado e que também precisava de trabalhar e mostrar aquilo que podemos fazer pelos outros a nível musical. Entretanto, foram surgindo alunos, professores e cá estamos”.

José Ferra aluno e guitarrista no projeto Cacau e o professor Nelson Silva
José Ferra aluno e guitarrista no projeto Cacau e o professor Nelson Silva

Aprender música por prazer e não por obrigação de quem aprende é o objetivo da escola. “O que nos diferencia das outras é que não nos prendemos só ao clássico, nem pretendemos que todas as pessoas que cá passem sejam músicos profissionais do clássico. A formação que existe no ensino articulado é essencialmente essa. Uma das vertentes do ensino em que existe maior abandono escolar é na música, porque é necessário exigir mais e estudar muito mais. A partir do nono ano o ensino da música requer muito trabalho, tal como um atleta de alta competição: é preciso muito empenho e é evidente que a maior parte dos alunos, não é isso que pretende. Quer aprender a tocar e divertir-se com a música é essa a nossa linha. Não existe entre o ensino genérico e ensino especializado ‘a ponte’ que é aprender música sem pretender ser profissional além de vertentes que não seja só o clássico”, explica Marta, com base na experiência ganha nas salas de aula.

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Especializada “em Educação Musical para crianças pequenas”, a docente dedica-se às iniciações, tendo formação superior para lidar com bebés e crianças até ao 2.°/3.°ciclo. “O aluno mais novo tem três anos e estuda bateria. O mais velho tem 83, já foi músico na Orquestra do Porto e veio aprender a tocar guitarra”.

Com “um protocolo com os representantes da Academia Royal”, a Musicflat pode inscrever qualquer aluno nos exames certificados com diplomas “reconhecidos a nível internacional”, o que os prepara para um futuro profissional na área.

Dinâmica e com vontade de marcar a diferença, a Musicflat está a organizar o Festival de Percussão dos Carvalhos que se realizará a 24 de janeiro, a partir das 14.30h, no auditório dos Bombeiros Voluntário dos Carvalhos. “A entrada é livre e as pessoas só têm que levar duas colheres de sopa. Vai haver um evento fora dos moldes a que estamos habituados. Vamos dar destaque a instrumentos de percussão tradicionais portuguesas que não têm sido muito evidenciados, abordar a percussão clássica, o pandeiro e naturalmente a bateria e as novas abordagens”, explica a mentora, estendo o convite também aos leitores da Move Notícias.

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Fotos: José Gageiro