Cultura

Cinemateca Portuguesa abre temporada em setembro

A Cinemateca Portuguesa, em Lisboa, realiza, em setembro, um ciclo dedicado ao realizador Joaquim Pinto, que estreia o documentário “E agora? Lembra-me”, no circuito comercial e na abertura do Cinema Ideal, em Lisboa, no próximo dia 28.

O documentário, visão pessoal sobre a convivência com a sida e a hepatite C, foi distinguido no ano passado, no Festival de Locarno, na Suíça, com o Prémio Especial do Júri, o Prémio da Crítica e o Prémio Júri Jovem, abrindo uma lista de distinções que se estendem a outros festivais, como o DocLisboa, o Cineport, no Brasil, os Encontros Internacionais do Documentário de Montréal, e os festivais de Cartagena de Índias, na Colômbia, e do Chile e da Argentina, entre outros.

A Cinemateca destaca a “excecionalidade” da obra e afirma que a distinção internacional chama a atenção para o “excecional” TRABALHO de Joaquim Pinto e Nuno Leonel, que realizam filmes juntos desde 1996.

“A minha vida não é nada de especial”, diz Joaquim Pinto no começo deste filme, espécie de caderno de apontamentos sobre a sua vida, ao lado de Nuno Leonel, e sobre o seu trabalho no cinema, como realizador, produtor e engenheiro de som.

O ciclo da Cinemateca Portuguesa abre no dia 3, às 19h00, com a exibição dos filmes “Surfavela” (1996), “Com cuspe e jeito se bota no cú do sujeito” (1997), “Entrevista com Yvonne Bezzera de Mello” (1997) e “Porca Miséria” (2007), todos realizados pela dupla Joaquim Pinto e Nuno Leonel.

“Surfavela”, a obra de estreia desta dupla, foi produzido para o canal televisivo franco-alemão Arte, e foi rodado nas favelas do Cantagalo e da Rocinha, no Rio de Janeiro, abordando o “projeto Surfavela”, que se centra na resistência ao racismo e à existência precária dos jovens através do surf, explica a Cinemateca.

As favelas são também focadas pelos dois realizadores no filme de 21 minutos “Com cuspe e jeito se bota no cu do sujeito”.

“Porca Miséria” é uma curta-metragem de animação de quatro minutos, que, segundo a Cinemateca, “se torna pertinente, evocando o universo brasileiro dos filmes [anteriormente exibidos], ao perceber que nada mudou”.

“Uma Pedra no Bolso” (1987), de Joaquim Pinto, e “Santa Maria” (1992), de Nuno Leonel, as primeiras obras de cada um dos criadores, têm igualmente lugar de destaque na programação do ciclo da Cinemateca.

Joaquim Pinto “conta uma história de iniciação e embate com a idade adulta: em férias, na estalagem de uma tia à beira-mar, Miguel encontra Luísa, o pescador João e o Dr. Fernando, três personagens que marcarão a entrada da sua primeira pedra no bolso”, um filme realizado sem subsídios e com uma reduzida equipa, “uma exceção no cinema português nos anos oitenta”, realça a instituição.

De Nuno Leonel, é apresentada a curta-metragem de animação “Santa Maria”, vista aqui, pela primeira vez, na Cinemateca. O filme foi selecionado para o Festival de Berlim, em 1992.

O filme é uma “explosão de imagens, sons e ideias”, atesta a Cinemateca, que refere que “foi o primeiro filme português em ‘dolby stereo'”, tendo sido “solicitado pela [própria] Dolby para testar os limites sonoros das salas internacionais de cinema”.

“O Novo Testamento de Jesus Cristo, segundo João” (2013), de Joaquim Pinto e Nuno Leonel, é exibido no dia 3, às 21h30. É um filme de 128 minutos, que regista um dia de leitura do Evangelho, por Luís Miguel Cintra, no campo, a partir de “O Novo Testamento de Jesus Christo Segundo João”, traduzido em português, da Vulgata Latina, por António Pereira de Figueiredo (1725-1797).

Desta mesma dupla de realizadores é exibido, no dia 4, às 19h00, “Fim de Citação”, filme realizado a partir de uma peça de Luís Miguel Cintra, criada em 2010 para o Teatro da Cornucópia, com Diniz Gomes, Luís Lima Barreto, Luís Miguel Cintra e Sofia Marques.

“Vimos esta peça como espetadores anónimos. A nossa proposta de filmar o ‘Fim de Citação’ em continuidade, durante outra representação, utilizando três câmaras emprestadas durante umas horas (com diversas contingências técnicas) e sem planificação prévia, é também o desafio de cruzar os pontos de fuga dos nossos sentidos e, a partir deles, reconstruir um ‘Fim de Citação'”, afirmam os realizadores citados pela Cinemateca.

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À noite é exibido, de Joaquim Pinto, “Das tripas coração” (1992) e “Para cá dos montes” (1993).

“Das tripas coração”, de 67 minutos, “foi o contributo de Joaquim Pinto para a série ‘Os Quatro Elementos’ (coprodução Madragoa, RTP, La Sept), em que lhe coube filmar o Fogo, ao lado de João César Monteiro (a Água: ‘O último Mergulho’), João Mário Grilo (a Terra: ‘O Fim do Mundo’) e João Botelho (o Ar: ‘No Dia dos Anos’)”.

Com argumento de Jeanne Waltz, esta, que foi a terceira longa-metragem de Joaquim Pinto, “conta a história de dois irmãos gémeos de vinte anos, ruivos, um rapaz e uma rapariga, que cumprem o sonho de se tornarem bombeiros, descobrem a crepitação do fogo e o poder curativo dos beijos”, tendo o filme sido selecionado para competir no Festival de Locarno.

“Para cá dos montes”, de 25 minutos, retrata a aldeia transmontana da Seara Velha, nos anos 1990 e durante as Invasões Francesas, nas primeiras décadas do século XIX.

No dia 5, no ciclo da Cinemateca é exibido, às 21h30, “Schizophreia” (1995), a segunda curta-metragem de animação de Nuno Leonel, e “Onde bate o sol” (1989), de Joaquim Pinto.

A longa-metragem “Onde bate o sol” foi esteada em 1994, mais de cinco anos depois da sua apresentação no Festival de Berlim. A narrativa fílmica passa-se no interior rural, durante um verão quente, e “pode ser referida como uma história do encontro de dois irmãos, em momentos emocionalmente convulsos”.

No sábado, encerra o ciclo com a exibição da longa-metragem “Rabo de peixe” (2003) e da curta “Sol menor”, ambas realizadas pela dupla Pinto e Leonel.

“Rabo de Peixe” foi rodado na comunidade piscatória homónima na ilha açoriana de S. Miguel. Remontado este ano, o filme é agora apresentado incluindo cenas anteriormente suprimidas a pedido dos patrocinadores, explica a Cinemateca.

“‘Sol Menor’ [é] uma miniatura que reflete a passagem do tempo justapondo a Sonata em Sol menor nº 2 (opus 5, nº 2), de Beethoven, a um poema de Cesariny”, esclarece a Cinemateca.

Joaquim Pinto, de 57 anos, iniciou-se no cinema como engenheiro de som, tendo trabalhado com realizadores como Manoel de Oliveira, João Botelho, Werner Schroeter, Alain Tanner e Margarida Cordeiro, entre outros.