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José Raposo fala de remorso e indignação pela morte de José Lopes

José Raposo foi uma das pessoas que mostrou a sua indignação e “algum remorso”, nas redes socias, pelas condições em que José Lopes vivia e morreu. O ator de 61 anos, foi encontrado morto na tenda onde dormia, nas ruas de Sintra.

Há um pedido de donativos solidários para lhe pagar o enterro, e eu próprio colaboro”, conta o José Luís da série da SIC Golpe de Sorte, sem deixar de sentir culpa por essa ajuda não ter acontecido em vida, nem que fosse com um  “donativo solidário, para viver. Para não ser enterrado em vida, precisamente”.

Indignado” com esta triste realidade, José Raposo também fez uma publicação onde revela o seu descontentamento com os nossos governantes. “Não se sabe a hora nem o dia em que tal facto aconteceu. Dizem que morreu de causa desconhecida… Que tristeza de país! Um dos maiores alicerces da Democracia supostamente seria a Cultura, mas neste país só se ouve falar em economia, economia, economia! E acreditem, muitas pessoas ligadas às artes vivem em condições desumanas como acontecia com o José Lopes”, constatou.

Se justiça houver, estará neste momento a receber aplausos, o melhor prémio para um ator. De dinheiro (o segundo melhor prémio para um ator) já não precisa. Apenas nós, para o seu funeral”, rematou assim José Raposo um dos seus textos.

As contribuições “destinam-se ao pagamento de todas as despesas associadas e o excedente reverterá a favor da Inês, filha do Zé“.

O velório do ator José Lopes realizou-se quarta-feira e o funeral será esta quinta, dia 12, às 15h, no Cemitério da Ajuda.

 

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Texto do Rui Zink:“A brincadeira com a banana e a fita adesiva trouxe-me à memória a Eugénia, que já cá não está e fazia entrevistas absurdas no Chiado, nos anos 80(os anos que mais pediam absurdo na rua porque era possível e porque a realidade ainda não era absurda,roubando trabalho honesto aos artistas honestos).E agora vem a notícia de que o Zé Lopes também já foi, encontrado no tugúrio onde morava por um amigo um par de dias depois de morrer.Agora há um pedido de donativos solidários para lhe pagar o enterro, e eu próprio colaboro, mas não escapa a muitos de nós que melhor teria sido tal ser feito em vida.Não o funeral, mas o donativo solidário, para viver.Para não ser enterrado em vida, precisamente.O Zé Lopes foi o primeiro grande actor que conheci, ainda no teatro da escola, Os Arletes, em 1975, orientados pelo professor Limpinho, de Filosofia, que ainda cá anda(parece)mas está difícil de localizar por quem para com ele tem(e somos muitos)uma dívida de gratidão.Nós éramos aprendizes de, o Zé Lopes era já actor autêntico.E actor se tornou.O que têm os actores que os torna tão frágeis, vulneráveis à chuva ácida?Ao contrário dos espertos como eu que nos habituámos a só sair à rua de gabardina com protecção anti-bala?O teatro nunca foi o nosso forte em escrita(pouca, poucachinha ao longo de oito séculos brilhantes para a poesia e a prosa, artes mais solitárias, logo mais adequadas ao clima português)mas foi vibrante em palco, mesmo quando o público voava noutras direcções.O teatro exige um público, uma sociedade que saiba dialogar, onde até o mais fraco tenha afiada língua contra poderoso senhorito, e nós sempre fomos mais de calar que de falar.«O silêncio é de ouro, o diálogo mata», poderia ser um lema.O Zé Lopes foi. Já cá não está.A última vez que o vi não tive a certeza de que era ele e, quando o pude ir procurar, tinha desaparecido.Agora desapareceu.Fica a memória, o algum remorso, a voz e a presença claras, de quando era um actor feliz.Se justiça houver, estará neste momento a receber aplausos, o melhor prémio para um actor.De dinheiro(o segundo melhor prémio para um actor)já não precisa.Apenas nós, para o seu funeral.” #parasaberemquemera

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