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Sobreviventes de incêndio de Londres: “Vi uma criança em chamas a saltar do 22º andar”

São cada vez mais as histórias de sobreviventes e de testemunhas do incêndio que destruiu o edifício Grenfell Tower, em Kensington, Londres, na madrugada desta quarta-feira, 14 de junho, e no qual morreram, pelo menos, 12 pessoas e 74 ficaram feridas, sendo que 20 estão em estado crítico. O balanço ainda é provisório.

Ainda são muitas as pessoas que permanecem desaparecidas, ou não estivéssemos a falar de um prédio de habitação social com 27 andares, 120 apartamentos e estima-se que albergasse entre 400 e 600 moradores.

Na hora de maior desespero, pais decidiram salvar os filhos pequenos atirando-os das janelas e esperando que as pessoas na rua os agarrassem. “Eu vi muitos dos pais e mães que moravam no prédio a gritar: ‘salvem as minhas crianças’ enquanto as atiravam das janelas”, contou uma testemunha.

Outros houve que saltaram para não serem apanhados pelas chamas.

Um morador disse ter visto uma criança em chamas a saltar do 22º andar. “O fogo começou no terceiro andar, nós chamamos os bombeiros que chegaram 20 minutos depois, mas a coisa toda subiu muito rápido. Uma hora e meia depois eu vi uma criança em chamas no 22º andar. Ela foi até à janela e saltou”, referiu ao jornal ‘Daily Mail’.

Desconhece-se o estado da criança, mas dada a altura, não terá sobrevivido. Já um bebé foi atirado da janela do 9º ou 10º andar, pela mãe, e acabou por ser salvo por um transeunte que o agarrou.

“Um homem correu para frente e milagrosamente segurou o bebé no momento certo e depois uma sombra, eu acredito que seja da mulher, voltou para o apartamento e isso foi a última coisa que vimos”, disse Samira Lamrani, que estava no local, ao jornal ‘HuffPost UK’.

Um homem que saiu a correr do 7º andar com a sua família contou que os moradores costumavam ser orientados a permanecerem em seus apartamentos em caso de incêndio. “Diziam-nos que a estrutura do prédio tinha condições de resistir ao fogo por uma hora e que neste período nós seríamos resgatados. Se eu tivesse seguido essa regra, não estaria vivo agora”, realçou.

Muçulmanos heróis
Os muçulmanos acordados por causa do período do Ramadão ajudaram a salvar vidas. Os moradores que conseguiram fugir das chamas disseram que não ouviram os alarmes quando o fogo atingiu o local e que foram alertados por vizinhos muçulmanos, que se tinham levantado mais cedo por causa do ritual religioso e se aperceberam do fumo.

Em entrevista ao jornal ‘The Independent’, Andre Barroso, de 33 anos, falou sobre como foi alertado. “Os muçulmanos desempenharam um papel importante para tirar muitas pessoas de lá. A maioria das pessoas que eu podia ver no resgate era muçulmana. Eles também forneceram roupas e comidas”, contou.

A Grenfell Tower foi construída em 1974 na área norte de Kensignton, perto do famoso bairro de Notting Hill, mas tinha sido reabilitado no ano passado. Em 2013, uma sobrecarga da rede de energia elétrica por pouco não provocava uma tragédia. Os moradores já tinham alertado para o risco de incêndio.

As causas do fogo – que terá começado no 4º andar à 01h00 numa das torres do prédio – ainda estão a ser investigadas, mas fala-se já em falhas de segurança na construção do edifício.

Vários vizinhos e o conhecido chef britânico Jamie Oliver já mostraram a sua solidariedade pelas vítimas e desalojados, ao oferecer-lhes comida e água.

Também o centro comunitário português recebeu uma “onda de solidariedade” com ofertas de ajuda para os portugueses afetados pelo fogo. Ao todo, 10 portugueses residiam no edifício de 24 andares, uma família de quatro pessoas e dois jovens em dois apartamentos no 13.º andar e uma família de quatro pessoas no 21.º andar. Destes, 4 tiveram de ser assistidos no hospital.

O plano prevê assistência com alojamento, alimentação, roupas e outros produtos pessoais, documentação e até apoio psicológico.

Fotos: Twitter