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Margarida Sousa Uva: A vida de uma mulher que não gostava de protagonismo

Conheceu Durão Barroso em 1975, na cantina universitária de Lisboa. Margarida Sousa Uva estudava na Faculdade de Letras, José Manuel em Direito. Tinham ambos 19 anos quando começaram a namorar. Casaram-se cinco anos depois na Sé de Lisboa e essa data, em setembro, seria depois sempre assinalada com um jantar especial.

Margarida Sousa Uva não gostava de protagonismo. Descrita pelos amigos como uma “mulher discreta, muito bonita, inteligente”, era também “muito sofrida”. Foi das primeiras figuras públicas a revelar que sofria de fibromialgia (doença crónica que provoca dores neuromusculares e fadiga), e foi diagnosticada com cancro do colo do útero em 2014.

Um ano depois foi operada, com sucesso, fora de Portugal. Pensou-se que estava curada, por isso a notícia da sua morte, esta quinta-feira, dia 18, apanhou todos de surpresa. Mesmo os mais próximos, que estão muito consternados.

Nos últimos atos oficiais, ao lado do marido Durão Barroso, disfaçou a doença com perucas. Ultimamente, dizem as pessoas mais próximas, Margarida aparentava estar muito cansada. Mas nunca deixou que isso afetasse o seu trabalho.

A mulher do ex-Presidente da Comissão Europeia e antigo Primeiro-Ministro pertencia à Comissão de Honra do projecto “Um lugar pró Joãozinho”, da pediatria do Hospital de São João, que já deixou uma mensagem de condolência.

Margarida Sousa Uva e Joãozinho

“As pessoas permanecem eternas na fraternidade das suas acções. Obrigado,Dra. Margarida Sousa Uva em nome de todas as Crianças”, realçaram.

Margarida acreditava no ideal de “um serviço de pediatria em que se respeita a criança” permitindo que esta não seja “tratada apenas como um doente ou um objeto de tratamentos”.

Era também vice-presidente da Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas, participando em iniciativas lado a lado com Filomena, mãe de Rui Pedro, o menino desaparecido de Lousada há 18 anos.

Foi ela que comparou o marido a um cherne durante o discurso que fez na campanha para as eleições legislativas em 2002. Bastou ler o poema ‘Sigamos o cherne’, de Alexandre O’Neil, que conta a história de um peixe que segue um sonho, para Portugal inteiro passar a usar essa expressão.

Tinha três filhos, Luís, Guilherme e Francisco, e dois netos. Um deles, Manuel Maria, de quem era muito próxima, como se comprovou no casamento do filho Guilherme em Aljustrel, em 2013. Essa cerimónia foi presidida pelo padre Vítor Feytor Pinto, amigo da família.

Margarida Sousa Uva tinha apenas 60 anos.

Fotos: arquivo Move Noticias