De chorar por mais

O Príncipe da Graça

Por razões familiares passo, de quando em vez, o remanso do fim-de- semana em Lisboa. Apesar de conjurado do Norte, acho tão bonita a cidade, principalmente vista dali, do alto da Graça onde a Família se acolhe.

Um dos hábitos fraternos que temos é sair de casa, dar alguns passos e entrar no nosso amigo Cardoso. Um homem bom e amável que nos cumprimenta sempre com tal afabilidade que nos sentimos como que abraçados numa amizade antiga, já de longos anos.

Mas este não é o principal segredo do Senhor Cardoso que há tantos anos tem, no seu sorriso franco, a porta de entrada para o seu inesquecível Estrela de Ouro, nome com que baptizou a santa casa de comer que há tantos anos dirige.

Claro que a fama do Senhor Cardoso é maior do que a da própria casa e, por isso, nunca pergunte como se vai para o Estrela de Ouro. Diga antes que quer ir para o Cardoso da Graça que chega lá melhor e mais depressa.

Num pé de orelha recente que tive, de Cardoso para Cardoso, com o nosso anfitrião, confessei-lhe e Ele concordou, que era melhor nada escrever sobre a casa. Primeiro porque é um daqueles segredos bem guardados que só se contam aos amigos íntimos, depois porque a exiguidade da sala – apenas com umas 5 ou 6 mesas e a fama da cozinha provocam um congestionamento que só o Senhor Cardoso, com a sua bonomia e simpatia, sabe gerir.

Na cozinha pontifica a mulher do Senhor Cardoso, Senhora D. Laura que Deus abençoou com duas mãos virtuosas de onde só saem coisas “lindas de comer”!

E é por aí que vamos: pelo que de bom se come neste santuário da Graça. A fama começou a ser granjeada pelos caracóis. Feitos a preceito, fora da hora das refeições arrebanham clientela fiel que, com pão quente e canecas frescas de vinho branco, limpam travessas de caracol em verdadeira catadupa!

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E nas refeições o que nos oferece o Senhor Cardoso?

Nas entradas vem um queijo de cabra honesto, fatiado que vai bem no pão de centeio que é servido. Não esqueça de pedir os croquetes, de carne de boa estirpe, apurados no paladar e aveludados na textura.

Depois,… entregue-se ao Senhor Cardoso. O peixe é da melhor confiança, do linguado à dourada ou ao robalo, tudo o que tiver prescrição “cardosiana” é de rigorosa confiança.

O bacalhau à moda do Minho parece feito na cidade dos arcebispos. Luminoso, com uma farta camada de cebola a luzir por cima das postas generosas do bicho e as batatas às rodelas, acabadas de fritar que se deixam tomar pela doçura do azeite e o sabor agridoce da cebola. Tudo – até as azeitonas e os picles, neste prato exuberante nos traz à memória a cozinha de Mãe que o Minho oferece melhor que qualquer outra região.

Nas carnes vá também com segurança. A cabidela à sexta-feira é um ícone que não pode perder. O cozido, completo e generoso, aparece pimpão e santificado todos os domingos.

Mas o dia-a- dia também oferece, sempre, bons lombinhos de vitela, um bitoque à séria, daqueles que Lisboa já não faz, umas costeletas de vitela tenras e sápidas, ou uns rojões como mandam os melhores cânones.

Deixe ficar um cantinho vago para a sobremesa e, se quer fazer bingo numa inesquecível refeição, não deixe de provar o leite-creme ou, ainda melhor, o arroz doce que nos traz à ideia essa Lisboa antiga, de tantas inesquecíveis doçuras.

Já percebeu porque é que eu não devia falar deste verdadeiro Príncipe da Graça? A verdade é que não consigo resistir na partilha destes lugares amoráveis que nos aquecem a alma e confortam o estômago.

Tanto mais quando têm ao comando gente boa e sã como a Família Cardoso! Uma vénia curvada aos Príncipes da Graça e sua Estrela de Ouro a brilhar mais que muitas outras estrelas que Portugal conhece!

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Restaurante Estrela D’Ouro

Rua da Graça, 22, Graça, Lisboa
Tefone.: 21 88652