Cultura

Jovem surdo do Porto faz curta-metragem para todo o tipo de público

A primeira produtora nacional dedicada à realização de conteúdos para pessoas surdas, criada no Porto por um jovem surdo, está a realizar uma curta-metragem que relata a vida de um estudante universitário com a mesma condição.

No filme “Registo Inédito”, cuja estreia está prevista para julho de 2016, é apresentado Ruivo e a sua “conturbada mente”, indicou Zé Luís Rebel, fundador da “startup” (empresa em fase de desenvolvimento) GestoFilmes.

Por estar sempre sozinho, Ruivo cria um personagem que o acompanha no dia-a-dia “para não cair na realidade crua e dura da vida académica”, onde o seu equilíbrio psicológico “é prejudicado pelo conflito entre o seu lado mais sombrio e o mais obsceno”, explicou o produtor.

De acordo com a fonte, a “startup” é a primeira produtora a nível nacional orientada para este público “minoritário”, embora o objetivo seja “captar a atenção” do público em geral.

“Gesto é tudo aquilo que nos rodeia, daí a ideia para o nome”, disse Zé Luís Rebel, explicando que se trata “de uma metáfora que simboliza a ligação e a sensibilidade entre as pessoas”.

Todos os vídeos contêm legendas, língua gestual, língua portuguesa/estrangeira (consoante a história), som e “expressões”, para que a informação chegue “diretamente a qualquer público”, oferecendo assim uma “igualdade de informação”, indicou.

A GestoFilmes foi fundada em setembro de 2011 mas só em março de 2016 é que teve a oportunidade de ter um espaço no Polo das Indústrias Criativas do Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC), depois de Zé Luís Rebel se ter candidatado para tal, em 2013 e 2014.

O objetivo, segundo o fundador, era obter “ajuda financeira e material e um espaço onde pudesse desenvolver o projeto de forma mais estruturada e criar uma equipa de trabalho”.

O jovem, que perdeu a audição e parte da memória aos dois anos, resultante de uma meningite, foi aprendendo a língua gestual ao longo dos anos.

Aos 17 anos começou a frequentar a Associação de Surdos do Porto (ASP), onde teve contacto com a realidade na qual as pessoas com esta condição vivem e a maneira como interagem na sociedade.

“A sociedade coloca-nos de parte”, afirmou o Zé Luís Rebel, para quem a GestoFilmes pode ser vista como “uma ponte para estabelecer a comunicação” entre esta e os surdos.

Habituado desde novo a assistir filmes com legendas, por incentivo do avô, viu surgir daí a sua paixão pelo cinema, curso que não seguiu por “não haver condições” – devido à sua surdez -, acabando por ingressar na licenciatura em Tecnologias de Comunicação e Multimédia no Instituto Universitário da Maia (ISMAI).

Embora tenha alguma ajuda esporádica, o jovem indicou que a maior parte do tempo trabalha sozinho na filmagem, edição, legendagem, planeamento e publicação dos conteúdos.

Participou, em 2011, na produção de um documentário sobre os surdos que estudavam na Escola Jacob Rodrigues Pereira, edifício inserido da Casa Pia de Lisboa, em colaboração com o produtor Fernando Centeio.

Alguns vídeos produzidos pela GestoFilmes podem ser encontrados no Facebook e nos canais Youtube e Vimeo.

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