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Óscar Branco: “Há um preconceito em relação aos humoristas”

Primeiro surgiu a paixão pela representação, que o fez abandonar uma carreira na área da engenharia. Depois de ter passado por vários palcos como ator, nomeadamente na companhia Seiva Trupe e no Teatro Nacional S. João, o humor apareceu na vida de Óscar Branco quase por acaso em 1983. “O humor foi um acidente na minha vida”, contou o humorista, que esteve à conversa com Move Notícias nos bastidores do espetáculo que protagonizou no Casino de Espinho. “Comecei por fazer teatro, mas um dia, estava num bar em Leça da Palmeira para assistir a um espectáculo de Paulo de Carvalho quando houve um problema e a atuação atrasou. Então, um senhor que sabia que eu era ator pediu-me para ‘fazer qualquer coisa’. Quando reparei estava no palco a contar piadas… até que reparei que o Paulo de Carvalho estava a assistir”, recordou. Depois disso a noite portuense foi contagiada por sonoras gargalhadas onde o seu talento corria de boca em boca, foram surgindo oportunidades e não faltou muito para que se estreasse em televisão e participasse em vários programas da RTP, como “Deixem Passar a Música”, “A a Z”, entre muitos outros.

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Mais tarde acabou mesmo por participar diariamente em programas do day time, nomeadamente “Fátima Lopes” e “SIC 10 Horas”, na SIC. Afastado há vários anos do pequeno ecrã, o humorista montalegrense de 60 anos, que usa no seu trabalho o quotidiano e a realidade política como ninguém, confessa que não sente saudades: “Honestamente, à distância, devia ter estado menos tempo na televisão. Primeiro, porque é um público completamente diferente e tem que ser um humor mais fácil. Ao fim de alguns anos há uma repetição. Deveria ter tido a lucidez de ter estado um ou dois anos e partir para outra. Deixei de ser um comediante e passei a ser um ator matutino”. Além disso, “este tipo de colaborações marcam um bocadinho e depois o regresso à comédia é mais difícil, porque há uma desconfiança que se tem que vencer”.

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No entanto, não deixa de lamentar que não haja mais espaço para humoristas na televisão: “A televisão funciona com o lucro, é mais barato ter uma pessoa a apresentar um programa de apanhados na internet do que ter um programa como o ‘Levanta-te e ri’”. Também nas novelas, Óscar Branco acredita que há um preconceito em relação aos humoristas. “No humor das novelas surgem sempre pessoas a fazer papel de atrasados mentais, claro que surge por vezes alguém com propensão para o humor e faz um bom trabalho. Mas os núcleos cómicos acabam por ser patéticos. São velhos, feios e gordos ou então as boazonas a fazer de burras”, defendeu, sem papas na língua.

Há mais de 25 anos a fazer espetáculos de stand up comedy por este país fora, Óscar Branco diz que já é hora de se olhar para o humor com outros olhos.

Considerado um pioneiro na área em Portugal, o humorista garante que não se arrepende de ter deixado a engenharia para trás e ter optado por uma carreira no palco. Afinal, nos tempos que correm, “é importante fazer as pessoas rir”.

O B

Fotos: José Gageiro