Off the record

As memórias de Aurora Cunha

Aurora Cunha partilhou com a Move Notícias alguns momentos de glória que viveu enquanto atleta de alta competição, e mostrou-nos troféus que marcaram a sua carreira e a moldaram na mulher que hoje é.

Todos os troféus e recordações têm um valor simbólico e uma história de sacrifício e glória na vida de Aurora Cunha. A imagem da ex-atleta ainda hoje se confunde com as vitórias conquistadas durante os anos em que representou o país destacando-se principalmente em provas de corta-mato, meio-fundo e fundo. Uma história com mais de duas décadas que merecia estar exposta ao público, “talvez um dia”, confessou a antiga atleta entre as memórias que a tornaram campeã.

Troféus com mais significado? “Todos, mas as medalhas que ganhei como campeã mundial de estrada em três anos consecutivos, são especiais. Ganhei a primeira medalha do Campeonato do Mundo, no dia 11 de novembro 1984. Fui para o estádio nacional sem conhecer as minhas adversárias, uma delas, já na altura de grande respeito, a Rosa Mota. Lá fui eu, muito pequenina, vestida de preto, destronar por completo a Rosa Mota, porque bati o recorde nacional de 1500 metros. Penso que esse foi o meu grande começo para o desporto. Depois ganhei em 1985 e no ano seguinte em 1986, perante 30 000 pessoas, quando o Campeonato do Mundo foi em Lisboa”, recordou.

Aurora Cunha representou Portugal em três edições dos Jogos Olímpicos. Venceu as maratonas de Paris, Chicago, Tóquio e Roterdão. Outro momento inesquecível “vai fazer agora, no dia 19 de novembro 24 anos” prossegue, com a descrição de quando ganhou a maratona de Tóquio: “Foi uma sensação indiscritível. Era a primeira vez que estava a correr uma maratona com tanto prestígio. Uma maratona feminina e a mais bem organizada, ao lado a minha colega Rita Borralho, que me dizia para ir devagar. Ela foi comigo até aos 21 quilómetros, deixei-a ficar e fui-me embora. Ganhei. Foi uma sensação única correr naquelas enormes avenidas, isolada, com a estrada por minha conta, só com a polícia à frente! Não queria acreditar que era eu que ia na frente com a camisola do FC Porto”, explicou com um brilho nos olhos, acrescentando: “São na verdade momentos únicos. Vale a pena de vez em quando ver estas coisas e lembrar um bocadinho da minha história”.

Começou a carreira aos 15 anos de idade, no Juventude de Ronfe, clube da sua terra natal, e representou o FC Porto durante 20 anos. Terminou a carreira profissional após o nascimento da filha. As lesões a nível dos tendões foram muitas, foi operada 3 vezes, e, achou que “era melhor acabar, sair pela porta grande”, confessa, sem mágoa. “Encarei muito bem a saída, também porque tive a sorte de ser uma mais-valia para pessoas que hoje são alguém no desporto, como é o caso da Run Porto, uma organização de eventos desportivos, a que estou ligada, podendo assim, dar continuidade à modalidade de que sempre gostei. Também sou embaixadora da Liberty Seguros, outra grande responsabilidade na minha carreira e naquilo que faço hoje. Tive sorte, porque apesar de não estar a competir tenho empresas que acreditam naquilo que vou fazendo, portanto acho que me posso considerar uma atleta com sorte, com profissionalismo e muita dedicação, mas acho que sou uma atleta privilegiada em Portugal. São anos de muito trabalho e sacrifício, de muitas dificuldades. Se voltasse atrás 20 anos, talvez mudasse algumas atitudes que tive no passado, talvez as tivesse de outra maneira. Aqui está metade da minha vida, do que dei a Portugal, ao FC Porto, e acima de tudo, que dei às pessoas que continuam a gostar de mim”, remata.

 

 

Fotos José Gageiro