Off the record

A paixão secreta de Henrique Sá Pessoa

Foi no seu restaurante, Cais da Pedra, espaço que abriu recentemente as portas em Lisboa, que Henrique Sá Pessoa recebeu a Move Notícias. Numa descontraída conversa, o chefe confessou não ter uma, mas duas paixões. “Começou aos 11, 12 anos e levou-me a jogar como federado no Oeiras durante cerca de seis ou sete anos. É a minha paixão de infância e na altura dedicava-me a 100%.  O basquetebol é uma paixão de longa data. Treinava todos os dias com os meus amigos, quando saía da escola, e ao fim-de-semana tinha jogos” contou, adiantando que chegou a ponderar abraçar este desporto para a vida toda. “Era o meu sonho. Mas é muito difícil fazer carreira nesta área. É como ser futebolista. Em 99% dos que querem ser profissionais apenas 1% consegue”, frisou.

A vida trocou-lhe as voltas, “até porque não reunia as condições necessárias, nomeadamente estatura, para fazer do basquetebol carreira” e ainda que atualmente não pratique tanto quanto gostaria, sempre que pode lança “umas bolas”. Deixou de acompanhar de perto esta modalidade, desde que os seus ídolos de infância deixaram a NBA e há cerca de 18 anos, assinalados em setembro deste ano, que transportou toda a sua garra e dedicação para a cozinha, sendo atualmente  um dos chefes mais conceituados no nosso país. Tem somado sucessos, que garante nunca são demais. No “curriculum” conta com dois restaurantes, um programa de televisão e seis livros editados. No fundo um reflexo do que lutou ao longo destes anos.  “Sinto que o esforço que dediquei a esta profissão me foi recompensado. Há poucos chefes que podem dizer ter a sorte que eu tive. Lutei pelo que alcancei, nada vem de graça” avançou em jeito de balanço.

Aos portugueses agradece o carinho com que sempre o trataram e confessa ter sentido um maior reconhecimento desde que se estreou na televisão com “Ingrediente Secreto”, na RTP2, um programa que é um dos mais vistos da estação e que conta já com várias temporadas. “Hoje em dia é difícil passar despercebido. Mas noto que a abordagem é sempre relacionada com que o faço e raramente sinto que a minha vida privada seja exposta desnecessariamente, até porque tento que assim seja. Gosto de apresentar boa comida e é por isso que sou conhecido” . Esse é o seu objetivo e foi por isso que abriu o Cais da Pedra, com localização privilegiada e um conceito diferente do restaurante Alma, no coração de Lisboa, e do qual também é proprietário. “O importante é o selo que damos de garantia. Por exemplo, no Cais da Pedra temos um ambiente descontraído e cosmopolita. o Alma é cozinha portuguesa contemporânea. Claro que os preços são diferentes, mas o conceito também é outro”, contou.

Já esteve nos Estados Unidos, Inglaterra  e Austrália. Ao todo oito anos de percurso internacional que marcaram largamente a sua carreira em termos de experiência, de cultura e que marcam essencialmente a sua cozinha. “O Cais da Pedra é um projeto que vive muito Londres e Estados Unidos, salta à vista de quem aqui vem. Isso são influências das minhas viagens”, partilhou Henrique Sá Pessoa, que venceu o concurso chefe cozinheiro do ano, em 2005.

No futuro, gostava de ver reconhecida mais notoriedade na nossa cozinha. “Sei que temos qualidade de produto e qualidade de chefs para ter mais reconhecimento internacional. Eu já o tive com o Alma, mas gostava de fazer parte do conjunto de chefs que puxam muito o país para a frente. É importante que o empreendorismo seja feito cá em Portugal”, afirmou, confessando-se ambicioso por natureza. “Os portugueses têm muito medo de falhar e arriscar. Quando me meto em algum projeto gosto de correr riscos calculados, de apostas ganhas. Até agora não senti que tenha dado um tiro no escuro”, contou descortinando ainda que essencialmente o tempo o ensinou a não se iludir com sucessos. “A ter os pés bem assentes na terra, a não ter pressa e principalmente a viver a vida.  Trabalhamos para viver, não vivemos para o trabalho. Adoro cozinha e o que faço, mas também adoro a minha filha e a minha família. Há que saber conjugar o lado profissional com o privado”. No final de contas Inês, de seis anos, é a sua grande prioridade: “A minha filha tem imenso orgulho do pai, mas também tem noção que o meu protagonismo se deve ao meu trabalho”.

 

 

Texto: Marta Matreno
Fotos: João Cabral