Saúde & bem-estar

Primeiro medicamento oncológico português revela eficácia

O fármaco começou a ser desenvolvido em Coimbra, a partir de 2010. Uma equipa multidisciplinar da Universidade estudou a molécula Redaporfin e patenteou-a para terapia inovadora no tratamento de vários tipos de cancro.

Trata-se da terapia fotodinâmica, uma terapia inovadora que permite eliminar as células cancerígenas de forma precisa. Nos testes realizados em animais revelou uma taxa de reincidência da doença muitíssimo baixa.

Já os ensaios clínicos tiveram início há cerca de dois anos e meio em doentes para os quais já “não existiam soluções terapêuticas”. E também aqui se revelou eficaz, especialmente no tratamento do cancro avançado da cabeça e do pescoço.

“Nesta fase, o medicamento investigacional provou ser seguro, bem tolerado pelos doentes e eficaz no tratamento do cancro avançado da cabeça e pescoço. A terapêutica fotodinâmica com Redaporfin demonstrou uma redução significativa do tecido tumoral, na área irradiada. Nos doentes tratados com uma dose única de 0.75mg/kg, a dose eficaz, os efeitos secundários observados foram controlados com medidas terapêuticas simples e, assim, não foram relevantes”, explicou Lúcio Lara Santos, oncologista cirúrgico do IPO-Porto e responsável pelo ensaio clínico.

Os resultados permitem prever que esta terapêutica será muito útil no tratamento dos tumores da cabeça e pescoço, associados ou não a outros medicamentos anti-oncológicos, seja a quimioterapia ou os novos medicamentos como a imuno-oncologia, e ainda nos tumores resistentes às terapêuticas comuns.

“O medicamento passou uma das fases mais arriscadas do seu desenvolvimento, a entrada no homem, e a regressão do tumor, verificada na sequência do tratamento, abre o leque de opções terapêuticas dos doentes que já estavam em fase de cuidados paliativos. Os resultados parecem ainda demonstrar que esta terapêutica pode vir a ser favorável no tratamento de outros tumores sólidos, o que representa um avanço enorme para o nosso país e uma nova esperança para milhares de doentes”, revelou Sérgio Simões, presidente da Luzitin, empresa participada do Grupo Bluepharma responsável pelo desenvolvimento do medicamento.

Os próximos passos do desenvolvimento da Redaporfin envolvem a realização de um ensaio clínico pivotal, em Colangiocarcinoma, um tipo raro de cancro, geralmente diagnosticado numa fase muito tardia da doença, com um prognóstico muito reservado e que tem vindo a aumentar em Portugal e no mundo.

Na sequência deste novo ensaio clínico, em 2021, poderá ser possível falar numa submissão de pedido de autorização de introdução ao mercado, à EMA (Agência Europeia de Medicamentos), e obter a respetiva aprovação do medicamento Redaporfin para a sua comercialização na Europa.

Fotos: Site da Universidade de Coimbra