Lenda do cinema europeu, a atriz Claudia Cardinale faleceu esta terça-feira, 23 de setembro, aos 87 anos, em Paris. A notícia foi confirmada pelo seu agente, Laurent Savry, à AFP, que revelou que a atriz estava em casa, “na presença de seus filhos“.
“Ela deixa-nos o legado de uma mulher livre e inspirada, tanto como mulher quanto como artista“, disse o agente.
Claudia Cardinale é reconhecida como uma das principais figuras do cinema europeu, tendo trabalhado com nomes como Alain Delon e Henri Fonda.
Nascida em Tunis, na Tunísia, em 1938, Claudia Cardinale iniciou a sua carreira após vencer um concurso de “mulher italiana mais bonita” da cidade. Como prémio, viajou para o Festival de Veneza.
Considerada uma das divas do cinema europeu, foi a atriz favorita de vários realizadores do século XX. Trabalhou com os maiores atores e realizadores, e a sua estreia de no mundo do cinema aconteceu em 1957.
Ao longo dos anos continuou a trabalhar em projetos cinematográficos, mas, na década de 1970, passou a atuar também em filmes para a televisão. Claudia Cardinale pouco trabalhou em Hollywood.
A atriz alcançou também notoriedade internacional ao contracenar com David Niven em “A Pantera Cor-de-Rosa”, de 1963. Protagonizou filmes como “Blindfold” (1965), ao lado de Rock Hudson; “Lost Command” (1966), com Anthony Quinn e Delon; “The Professionals” (1966), que a reuniu novamente com Burt Lancaster, o seu parceiro em “O Leopardo”; e “Don’t Make Waves” (1967), com Tony Curtis.
Destacou-se ainda no clássico “Aconteceu no Oeste” (1968), de Sergio Leone, no papel de Jill McBain, uma mulher viúva. Na obra contracenou com ícones de Hollywood como Henry Fonda e Charles Bronson.
A sua carreira teve uma ligação a Portugal em 2012, apareceu em “O Gebo e a Sombra”, realizado por Manoel de Oliveira.
Foi galardoada com um Leão de Ouro em Veneza, em 1993, e um Urso de Ouro em Berlim, em 2002. Em Portugal, Claudia Cardinale recebeu o Prémio Carreira no Festival Internacional de Cinema do Funchal.
Filhos e os rígidos códigos morais
Teve uma vida familiar marcada pelos dois filhos, que a acompanharam nos seus momentos finais. Claudia Squitieri, fruto do seu longo relacionamento com o cineasta italiano Pasquale Squitieri, e o primogénito, Patrick (ou Patrizio) Cristaldi.
Claudia Cardinale era mãe solteira aos 18 anos, de um bebé que dera à luz em Londres. No entanto, os rígidos códigos morais da época levaram o produtor e o seu futuro marido e pai adotivo de Patrick, Franco Cristaldi, a convencê-la a apresentar o bebé como seu irmão.
Não apenas para proteger a sua reputação entre os colegas, mas também para evitar o corte da sua carreira em ascensão. Até para a própria criança, ela era sua irmã, não sua mãe.
Na verdade, a atriz sofreu foi um estupro, sofrido aos 17 anos. Um evento terrível que ela relatou décadas depois, em 1995, na sua autobiografia, “Moi Claudia, Toi Claudia”. “Eu não conseguia falar, não conseguia gritar, fiquei paralisada. Quando descobri que estava grávida, soube que minha vida nunca mais seria a mesma“. “Foi horrível, mas o mais lindo é que daquela violência nasceu meu maravilhoso Patrick. Na verdade, mesmo sendo uma situação muito complicada para uma jovem mãe, decidi não fazer um aborto“.
“Conversei com meus pais maravilhosos e minha irmã Blanche, e juntos decidimos que o meu filho cresceria na família, como um irmão mais novo“.
Homenagem
O presidente francês, Emmanuel Macron, prestou homenagem a Claudia Cardinale, destacando o seu “talento” e o facto de a atriz ter escolhido Paris “como a sua pátria“.
Claudia Cardinale incarnait une liberté, un regard, un talent qui ajouta tant aux œuvres des plus grands, de Rome à Hollywood, et Paris, qu’elle choisit comme patrie.
Nous Français porterons toujours dans notre cœur cette star italienne et mondiale, dans l’éternité du cinéma.
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) September 24, 2025
