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Globos de Ouro: a política foi o tema da noite

Estes Globos de Ouro vão ficar certamente escritos história. O primeiro grande evento emitido depois da eleição presidencial norte americana teve as nuances de Hollywood habituais, mas foi marcada por discursos e stand ups que abordaram o clima político atual vivido na América e no mundo e, à semelhança do que aconteceu nos Óscares do ano passado, a necessidade de inclusão e diversidade.

Depois de abrir a noite com uma ode musical dedicada a “La la land”, o filme vencedor da noite com 7 Globos, Jimmy Fallon, o apresentador da 74.ª Gala dos Globos de Ouro, começou um monólogo político, focado no presidente americano Donald Trump e nas eleições presidenciais de 2016. Visto por muitos como uma forma de se desculpar da entrevista branda que fez a Donald Trump em Setembro de 2016, comparou a gala dos Globos de Ouro a “um dos poucos sítios nos EUA onde ainda é respeitado o voto popular”. Para os amantes de “Game of Thrones”, Jimmy Fallon disse que a sua curiosidade ia ser satisfeita em 12 dias: iam descobrir como seria se King Joffrey – um rei cruel morto há várias temporadas – tivesse sobrevivido.

O ator Hugh Laurie e o realizador do filme de animação “Zootopia” Byron Award usaram também este momento de visibilidade perante milhões de pessoas para falar sobre a importância da diversidade e inclusão nos Estados Unidos. Sem referir pessoas, Laurie anunciou que estes seriam “os últimos Globos de Ouro”. “Eu não quero ser sombrio, mas o evento tem no título as palavras Hollywood, Foreign e Press”, completou o ator britânico. Howard, por sua vez, disse que o seu filme, que ganhou o Globo para Melhor Filme de Animação, tinha como objetivo enviar uma mensagem “aos adultos sobre abraçar a diversidade, mesmo que existam pessoas (…) que querem nos dividir usando o medo”.

Meryl Streep aceitou o prémio de carreira Cecil B. DeMille pelas mãos de Viola Davis e deu continuidade às palavras de Hugh Laurie sobre a Hollywood Foreign Press Association, “um segmentos mais desacreditados da sociedade americana”.
Durante 6 minutos a atriz falou sobre a necessidade emergente de proteger a liberdade de imprensa e a empatia na América”, um país composto por pessoas de todos os cantos do mundo. Sem nunca mencionar o nome de Trump, Streep disse: “Hollywood está repleta de estrangeiros e se você correr connosco, não terá nada para assistir para além de futebol americano e artes marciais combinadas”.
Quase afónica mas sempre irónica e inteligente, a atriz destacou o momento em que Donald Trump imitou um jornalista deficiente do New York Times, num dos seus comícios, como a performance que mais se destacou ao longo do ano. “Esse momento partiu o meu coração (…) porque não foi num filme, foi na vida real. “Este instinto para humilhar, quando vem de alguém que tem acesso a plataformas de promoção pública, de alguém numa posição de poder, entranha-se na vida de todos nós, porque dá permissão a toda a gente para agir da mesma forma. O desrespeito convida ao desrespeito, a violência incita à violência”. Depois de convidar os presentes a aplaudir Donald Trump, Streep concluiu seu discurso citando a amiga Carrie Fisher: “Pegue no seu coração partido e transforme-o em arte.”

Donald Trump não esperou muito tempo para reagir aos comentários da atriz e em entrevista telefónica ao New York Times categorizou-a como “uma amante da Hillary”. Trump afirmou que não tinha visto o discurso nem a gala, mas que não estava surpreendido com as críticas do “povo liberal da indústria cinematográfica”.

Entre a miríade de tweets que o discurso de Meryl Streep gerou, Dan Rather, ex pivô da CBS Evening News, agradeceu a relevância e a maneira como enobreceu os jornalistas.