Cultura

“Momento único” de homenagem a António Variações

Ao Palco Mundo do Rock In Rio, no sábado, dia 31, subiram duas gerações de músicos portugueses, os ex-Heróis do Mar Rui Pregal da Cunha e Paulo Pedro Gonçalves, contemporâneos de António Variações, e Gisela João, os Deolinda e os Linda Martini, todos miúdos na altura em que o músico surgiu.

Paulo Pedro Gonçalves recordou, em declarações à “Lusa” momentos antes do concerto, o músico “cheio de talento, um poeta”, que era também um “amor” de pessoa.

“Não era a pessoa mais fácil para trabalhar, porque não era músico, mas sabia o que queria. E muitas vezes o que ele queria não fazia parte do universo de arranjos e composições a que uma pessoa estava habituada a trabalhar, mas resultava sempre”, disse.

Referido como um homem à frente do seu tempo, António Variações foi, para Rui Pregal da Cunha, a par dos Heróis do Mar, “uma grande pedrada no charco em Portugal”.

“Ambos [os Heróis e Variações] estavam preocupados com o agora. O que parecia muito ‘uau’ na altura eram pessoas que estavam preocupadas em fazer aquilo naquele momento”, referiu.

Paulo Pedro Gonçalves lembra que “não se passava muito em Portugal na altura, era uma altura nova”, por isso, “tudo o que sai dessa altura é um bocado à frente”.

Os músicos da nova geração reconhecem o pioneirismo de António Variações, cuja atividade profissional principal era cabeleireiro. “Ele veio rasgar com tudo e abrir portas e isso não tem preço”, defendeu Gisela João.

A fadista, que era “muito miúda” na altura em que Variações cantava, sente que hoje tem “abertura para fazer coisas” graças ao músico.

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Num repertório “tão vasto e tão variado” foi fácil os Deolinda encontrarem temas com os quais se identificassem. Segundo a vocalista, Ana Bacalhau, “em termos de letras” os Deolinda e Variações têm em comum “o olhar cronista sobre a vida do dia a dia”. “Cantarmos aquilo que observamos”, disse.

Luís Martins encontra também “a ligação à tradição, mas com um olho no futuro”. Apesar de tocarem música mais ‘pesada’, diferente dos restantes participantes da homenagem, os Linda Martini sentiram, ao interpretarem os temas de António Variações, que “havia ali uma linguagem comum”.

“Há pontos em comum. É um artista que dentro do panorama musical português desbravou muito caminho. Nós também havemos de ser um bocadinho o reflexo do que é a obra dele”, afirmou o guitarrista Pedro Geraldes.

Apesar de este ser um “momento único”, os Linda Martini admitem integrar os temas que vão tocar hoje em futuros concertos.

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Fotos: RIR