Saúde & bem-estar

Cigarro e obesidade também causam cancro da próstata

Se a ocorrência do cancro da próstata tem como principais fatores de risco a idade avançada e questões genéticas e hereditárias, as formas mais avançadas da doença podem estar associadas também a outras condições, parte delas relacionadas ao estilo de vida, ou seja, evitáveis.

Esse foi o alerta feito pela epidemiologista americana Lorelei Mucci no IX Congresso Internacional de Uro-oncologia, realizado em São Paulo entre quinta-feira e sábado (3).

Professora da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, a profissional destacou que o cigarro e a obesidade estão entre esses principais fatores.

Os programas de rastreio precoce do cancro da próstata, disse Lorelei, deveriam ser personalizados segundo o perfil e o risco de cada paciente em desenvolver formas mais graves da doença.

Leia os principais trechos da entrevista da cientista ao jornal “O Estado de S. Paulo”:
Quais são os principais fatores de risco para o desenvolvimento do cancro da próstata?
Há consenso de que os homens mais velhos, os afro-descendentes e os que já tiveram um irmão ou pai com a doença têm maiores riscos de ter cancro da próstata.

Há ainda vários estudos que mostram que há alguns genes herdados associados à doença. Por fim, homens mais altos também podem ter maior risco porque, quando os rapazes crescem, durante a puberdade, é exatamente quando a próstata está a crescer mais rápido.

Há, portanto, alguns pensamentos de que as hormonas relacionadas com uma altura mais alta podem também ter influência na ocorrência da doença.

Esses são os cinco fatores de risco para o cancro da próstata e, obviamente, você não pode modificar nenhum deles. No entanto, os fatores de risco que parecem estar associados aos casos avançados de cancro da próstata podem ser modificáveis.

Por que estariam mais ligados ao estilo de vida?
Sim. Quanto ao tabagismo, por exemplo, homens fumadores têm duas vezes mais probabilidade de morrer de cancro da próstata do que homens que nunca fumaram.

Quanto à obesidade, se olhar o índice de massa corporal (IMC), um homem com sobrepeso tem 30% mais de hipóteses de morrer da doença. Já os que são muito obesos têm cerca de 60% a 70% mais chances se comparados com os de peso mais saudável.

E quanto aos demais fatores de risco que estão a ser estudados, como o consumo de alguns alimentos?
Já temos muitos estudos sobre tabagismo e obesidade. Mas estamos a começar a olhar agora para fatores como o consumo de café e outras questões ligadas à dieta. As evidências são sugestivas, mas não fortes o suficiente para dizermos que é um fator de risco provável.

O diagnóstico precoce ainda é afetado pelo preconceito que alguns homens têm em passar pelo exame?
Sim, e nos Estados Unidos isso também é um desafio. Mesmo com o facto de terem risco maior para a doença, muitos homens negros ainda são muito relutantes em passar pelos exames de rastreio porque o acham muito invasivo.

O que deveria ser alterado no combate à doença?
Uma coisa é mudar nossa abordagem de rastreio dos homens porque hoje muitos são diagnosticados com um cancro da próstata que não evoluirá para algo mais grave.

Eles, então, fazem o tratamento e acabam por ter efeitos colaterais na qualidade de vida. Precisamos aprimorar isso de forma a manter os benefícios de diagnosticar cedo os casos, mas focando nos homens que realmente têm maior risco de morrer da doença.

Qual seria, então, a melhor abordagem de rastreio?
Poderíamos rastrear os homens mais cedo, por volta dos 40 anos, e considerar o nível de PSA (Antígeno Prostático Específico, um dos exames que auxiliam no diagnóstico do cancro da próstata) detetado para guiar as diretrizes futuras de rastreio para aquele homem, o que poderia significar repetir os exames todo ano ou em dez anos, por exemplo.

Acredito que o rastreio, de facto, reduz a mortalidade, mas acho que as recomendações devem priorizar os homens com maior risco.