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Discursos, luta entre as duas famílias e reforço de flores: Assim se preparou o funeral de Diana

Passaram-se sete dias entre a morte da princesa e o funeral. Diana sofreu um acidente de carro em Paris, mas foi toda a logística necessária a uma cerimónia tão grandiosa como esta que fez com que a ex-mulher de Carlos fosse sepultada apenas a 6 de setembro no Reino Unido.

Numa altura em que se assinalam 20 anos da morte de ‘Lady Di’ e depois de terem sido feitos tantos documentários sobre o assunto, eis que foram retratados, quase ao minuto, dois desses dias.

Foi Jonathan Mayo, autor de ‘Titanic: Minute By Minute’ e ‘D-Day: Minute By Minute’, que o fez para o jornal britânico ‘Daily Mail’.

3 de Setembro
06h00: Charles Spencer levanta-se cedo para escrever o discurso que iria ler no funeral, na Abadia de Westminster. Depois de dormir mal e de ter feito um rascunho que não gostou, o irmão de Diana sabe que tem de escrever as melhores palavras de homenagem à princesa.

Earl Spences e Frances Shand-Kydd pai e mãe da princesa Diana no batizado dela

08h00: Vestida de preto, a mãe de Diana, Frances Shand Kydd deixa o seu bungalow na ilha de Seil para seguir para Londres. Aos jornalistas à sua espera disse: “Os meus sinceros agradecimentos a todos pelas suas orações, flores e infinita gentileza, após a morte da minha filha, Diana. Agradeço a Deus pelo dom de Diana e por todo o seu amor e entrega – eu a devolvo a ele, com o meu amor, orgulho e admiração para descansar em paz”.

Entretanto as floristas de Londres tiveram de encomendar flores do resto da Europa, pois os stocks deles já tinham esgotado. No Palácio de Kensington, morada de Diana, os bouquets ali depositados já estão nas dezenas de milhar.

10h30: Na reunião diária no Palácio de Buckingham para debater os preparativos para o funeral, ainda é necessário tomar decisões cruciais. Uma delas é o cortejo fúnebre, sendo que se decidiu aumentá-lo em duas milhas. A sugestão foi de Michael Gibbins, do escritório da princesa: “Porque não levamos a princesa de volta ao Palácio de Kensington e começamos de lá? Podemos levá-la a casa uma última noite, na véspera do funeral. Ao começar dali, podemos aumentar o percurso a mais de duas milhas”.

Príncipes André e Eduardo numa foto recente

É também decidido que o príncipe André e o príncipe Eduardo devem ir ver as homenagens em frente ao palácio para testar a disposição do público. Temia-se que o príncipe Carlos iria ser vaiado ou pior por causa das ameaças entretanto recebidas. Os irmãos de Carlos acabaram por fazê-lo no dia seguinte e tudo correu bem.

Já no dia anterior, o duque de Edimburgo interrompeu a reunião através de uma chamada em conferência, furioso com as sugestões sobre o papel de William e Harry no funeral.”A nossa preocupação neste momento é o William. Ele fugiu pela colina e não o conseguimos encontrar. É a única coisa com que estamos preocupados neste momento”, disse o marido da rainha Isabel, que tal como a mulher, os netos e o filho Carlos, estavam de férias em Balmoral, na Escócia.

Na imprensa britânica aumentava a pressão para que a monarca voltasse a Londres e que a bandeira fosse erguida a meia-haste no Palácio de Buckingham.

11h30: O Arcebispo de Canterbury, George Carey, está em Lambeth Palace a reescrever as orações para o funeral. Nem a família Spencer nem a Família Real gostaram do seu primeiro rascunho. Os Spencers não quiseram mencionar a família real e a família real insistiu que as palavras “Princesa do Povo” [da autoria de Tony Blair] fossem removidas.

13h00: Em Paris, a polícia procura no apartamento de Henri Paul na rua Petits-Champs quaisquer pistas que ajudem a explicar o acidente. Encontraram vinho e bebidas espirituosas no hall, na cozinha e na sala de estar.

Aliás um elemento da equipa de Mohamed Al Fayed no Hotel Ritz, que foi proibida de falar à imprensa, disse que Henri Paul [funcionário do hotel] não era motorista de profissão e que costumava estar ‘tocado’ pelo álcool várias vezes.

Entretanto aumentam as flores depositadas no Harlem Hospital em Nova Iorque, onde em 1990 Diana fez capas de jornais ao abraçar um bebé com SIDA, e continua a fila imensa de pessoas que querem deixar as condolências num dos cinco livros postos para esse efeito na embaixada britânica em Paris.

Henri Paul, motorista da limusina

15h00: Charles Spencer chega de carro ao Palácio St James e é levado à Capela Real, onde está o corpo da sua irmã. Ele leva consigo o discurso que quer dar no funeral. Põe-se na frente do caixão de Diana e lê-o em voz alta para ela. Ele disse mais tarde que ouviu “um sussurro de satisfação naquele lugar triste, triste”.

Desde o século XVI, todos os elementos da família Spencer foram enterrados na igreja de St Mary the Virgin em Great Brington, próximo de Althorp.

Com receio de que a igreja se torne um santuário, mudou de ideias e queria antes que a irmã fosse enterrada numa ilha na propriedade de Althorp (o que veio a acontecer).

O Primeiro-Ministro Tony Blair fala ao telefone com o príncipe Carlos e ambos concordam que a Rainha deve regressar a Londres e fazer um discurso público.

Conde Charles Spencer, Príncipe William, Príncipe Harry e Príncipe Carlos no funeral da princesa Diana

17h00: Em Berlim, a soprano Lynne Dawson está ao telefone com o mestre dos coristas da Abadia de Westminster, Martin Neary. Ele pediu a Lynne para cantar parte do movimento final do requiem [missa dos mortos] de Verdi no funeral, no sábado, com apenas um ensaio na Abadia no dia anterior. Ele explica que o requiem de Verdi é especial para Diana porque foi tocado no primeiro concerto de música clássica que o príncipe Carlos a levou.

19h00: Sarah, Duquesa de York, está em lágrimas na Capela Real. Sarah e Diana não falavam há mais de um ano depois que a Duquesa escreveu no livro de memórias que ‘apanhou’ uma verruga depois de pedir emprestados os sapatos de Diana. A ex-mulher de André deixa um bouquet de flores com o cartão: ‘My most darling friend, my Duch, I love you. My soulmate and partner. God bless you — Fergie.’ (A minha amiga mais querida, minha Duquesa, amo-te. Minha alma gémea e parceira. Deus te abençoe – Fergie).

4 de Setembro
10h45: Trevor Rees-Jones [guarda-costas de Diana que foi o único sobrevivente do brutal acidente no Túnel de Alma a 31 de agosto] está já anestesiado na mesa de operações no hospital Pitié-Salpêtrière em Paris. Luc Chikhani, um dos melhores cirurgiões da França, está prestes a começar uma ‘maratona’ para reconstruir o seu rosto.

Coladas à parede, para servir de guia nesta reconstrução facial, estão fotos do casamento de Trevor.

Trevor Rees-Jones, guarda-costas de Diana, foi o único sobrevivente do acidente

11h00: Mohamed Al Fayed manda chamar a irmã de Diana, Lady Sarah McCorquodale, ao seu escritório no Harrod’s para lhe dar uma moldura prateada com um poema de Dodi para a princesa e para lhe dizer as últimas palavras da irmã (segundo relatou uma enfermeira): “Please make sure that all my possessions get to my sister in Lincolnshire” (Por favor assegure-se que todos os meus pertences são entregues à minha irmã em Lincolnshire).

Lady Sarah sabe instantaneamente que aquilo era impossível. Diana chegou ao hospital de Paris inconsciente.

Dodi Al Fayed e Diana

Entretanto a segunda autópsia ao motorista da limusina, já que a família não se acreditou na primeira, confirma que tinha uma taxa de álcool três vezes superior ao permitido por lei e que também tinha ingerido comprimidos para combater a depressão e o alcoolismo.

Nesse dia, o ex-amante de Diana, James Hewitt, está doente na cama na sua casa em Devon. Ele reencontra algumas das cartas que Diana lhe escreveu durante os cinco anos de relacionamento. “Percebi que a amava mais do que qualquer mulher que eu já tive ou que irei amar”, escreveu mais tarde.

18h30: A Família Real está de regresso a Balmoral depois de vir da Igreja de Crathie. O carro do príncipe Charles pára nos portões e ele, William e Harry vêem as flores deixadas pelo público.

O príncipe Harry segura a mão do pai enquanto lê as mensagens. Uma diz: “Espero que Deus lhe dê força para ultrapassar o sábado e no resto das suas vidas”.

23h30: Na cerimónia de entrega de prémios da MTV em Nova Iorque, as Spice Girls são premiadas com o galardão de Melhor Vídeo de Dança com a música ‘Wannabe’. Mel C dedica o prémio à princesa Diana.

Elton John anuncia que 100 mil dólares irão ser doados para as instituições de caridade de SIDA que Diana apoiou. Há uma grande especulação que dá conta que o músico vai cantar na Abadia de Westminster no sábado.

O porta-voz de Elton nega, mas na verdade o letrista Bernie Taupin escreveu uma nova versão da sua música conhecida ‘Candle In The Wind’ e a letra já foi enviada para a Abadia de Westminster para serem impressas para o funeral.

Pela primeira vez, o público poderá acampar no Parque St James e no Hyde Park durante esta noite e a noite de amanhã, 5 de setembro. Mas o responsável dos Royal Parks, Dennis Clark, disse à sua equipa para remover todos os campistas que acendem incêndios ou causem distúrbios.