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Sérgio Conceição: Exemplo da boa herança que os jogadores deixam aos filhos

Foram craques da bola mas com o avançar da idade viram-se obrigados a deixar o futebol de alta competição, pelo menos enquanto jogadores. Muitos deles avançaram posteriormente para comandos técnicos, mas os seus nomes continuaram a ‘passear’ pelas quatro linhas de jogo.

Sérgio Conceição, Domingos Paciência, António Sousa, António André, António Veloso e João Vieira Pinto, só para citar alguns, são exemplos conhecidos do que acabamos de escrever. Antigos jogadores de provas dadas, viram os seus filhos receber de herança o jeito para o pontapé na bola, ainda que, na maior parte dos casos, nunca tivessem sido ultrapassados por eles em termos de qualidade de jogo.

O novo treinador do F.C. Porto é um caso flagrante do que acabamos de escrever. Sérgio Conceição tem cinco filhos e quatro deles já jogam em clubes, mas nenhum naquele que o pai agora representa. O mais velho, de 20 anos, e que também herdou o nome do progenitor, é defesa e extremo direito e alinha no Oliveira do Bairro. Logo depois vem o extremo direito e esquerdo Rodrigo, que conta 17 primaveras e serve as cores do… Benfica. No Sporting joga Francisco, de apenas 14 anos, nas mesmas posições de Rodrigo. Já Moisés (16) é médio defensivo e futebolista do Anadia. Na equação falta referir o pequeno José, de apenas 2 anos, mas que, inserido neste contexto, tem tudo para vir a ser o melhor do clã.

O que é curioso neste caso específico é que Conceição tem dois filhos a jogar nos dois maiores rivais do clube pelo qual o seu coração bate. Aliás, pouco antes de ser apresentado como treinador dos dragões, Rodrigo esteve precisamente no Olival, a servir as cores do Benfica contra o F.C. Porto.

Nessa partida ganha pelos azuis e brancos (2-1) estiveram mais dois filhos de antigos jogadores, ambos a representar os dragões. Foram eles Vasco Paciência e Afonso Sousa, descendentes de antigos jogadores do F.C. Porto. O primeiro é filho do antigo goleador Domingos Paciência, o segundo do médio criativo Ricardo Sousa.

No que diz respeito a Afonso, de 17 anos, note-se que além de ser filho de Ricardo é ainda neto de António Sousa, o expoente máximo da família do mundo do futebol, pois foi um dos heróis de Viena, onde os dragões se sagraram campeões europeus pela primeira vez na sua história, em 1987. Refira-se ainda que todo o clã Sousa joga ou jogou na posição de médio.

Quanto a Vasco Paciência, esse também tem mais craques na família além de Domingos, pois é irmão de Gonçalo, avançado ligado contratualmente aos azuis e brancos, mas que na temporada passada esteve emprestado ao Rio Ave. Vasco, de resto, além do jeito para a bola, também alinha na mesma posição do pai e do irmão, como avançado.

Gonçalo Paciência, por seu lado, já joga como sénior e, ironias do destino, defrontou o pai na última jornada do campeonato passado, o Rio Ave-Belenenses. Gonçalo levou a melhor e a sua equipa venceu a que é treinada pelo pai (2-0). Antes da partida, Domingos referiu-se com boa disposição a esse duelo familiar:

“É uma situação que vai acontecer pela primeira vez. Ele já teve oportunidade de querer espicaçar um pouco o nosso plano, ao dizer que nos vai ganhar. O que me apetece dizer é… anda um pai a criar um filho para isto? [risos]. Mas tanto eu como ele não estamos nem fomos preparados para perder. Portanto, quem perder vai ficar de certeza absoluta mais triste na próxima semana. Vamos ver o que acontece.”

Certo é que tudo parece ter sido ultrapassado de uma forma saudável, visto que pai e filho estiveram nas bancadas do mini-estádio do Olival, quando Vasco Paciência e Afonso Sousa defrontaram Rodrigo Conceição, no tal F.C. Porto-Benfica.

Refira-se que André André (António André), Miguel Veloso (António Veloso) e Tiago Pinto (João Vieira Pinto), como os exemplos atrás referidos, também decidiram seguir as pisadas dos respetivos pais e tornaram-se jogadores profissionais de futebol. Curiosamente, ainda nenhum deles conseguiu atingir o estatuto alcançado pelos seus progenitores. E, embora pareça difícil, ainda o podem fazer. O que é certo é que todos os casos referidos, à margem da questão da ‘clubite’ receberam dos pais a melhor das heranças: a riqueza do amor pelo desporto.