Off the record

Herman José: A enciclopédia do humor

Quem tem hoje 30 ou mais anos, seguramente guarda no seu vocabulário muitas expressões daquele que é quase unanimemente considerado como o melhor programa de humor da história da televisão portuguesa.

Mesmo os que são mais novos também as usam, mas fiquem esses a saber que, quando dizem, por exemplo, “não havia ‘nexexidade'”, não estão a usar uma expressão propalada pelos seus pais, tios ou avós. Estão, isso sim, a ‘plagiar’ o famoso Diácono Remédios, uma das personagens mais mediáticas de ‘Herman Enciclopédia’.

A verdade é que, desse programa, saíram muitas mais expressões e personagens trazidas à luz por Herman José e que perduraram na língua e na memória dos portugueses até aos dias de hoje. Portanto, “let´s look at the trailer”, by ‘Lauro Dérmio’.

Herman José revolucionou o humor em Portugal e criou algumas das personagens mais hilariantes da nossa televisão. Foi já com uma carreira recheada de sucesso que, em 1997, “o verdadeiro artista” abraçou um novo projeto na RTP, que o ajudou a superar o desgosto pelo ponto final colocado pela direção da televisão estatal no concurso que conduzia anteriormente, ‘Parabéns’ de seu nome.

Os sketches de ‘Herman Enciclopédia’, programa que foi para o ar pela primeira vez a 15 de Abril de 1997, fez 20 anos no passado sábado, tiveram o efeito de uma lufada de ar fresco na televisão portuguesa, mas aqui não houve amor à primeira vista.

As fracas audiências do primeiro episódio, numa altura em que a “televisão em movimento” da SIC destacava-se no panorama nacional, não retirou a confiança da RTP na fabulosa equipa encabeçada por Herman José. Foi uma postura que se revelou acertada, uma vez que, passados alguns episódios, as expressões do programa já se ouviam nas ruas dos quatro cantos de Portugal. É caso para dizer: “Fantástico, Melga”.

Centrada na atualidade portuguesa, Herman Enciclopédia não poupava ninguém ao seu humor ‘nonsense’, nem mesmo as outras figuras da estação. Personagens conhecidas da altura no nosso país como eram Baptista-Bastos, Carlos Pinto Coelho e Lili Caneças ou ainda figuras mundialmente conhecidas como David Attenborough foram parodiados por Herman José e companhia. Isso oferecia também um cariz cultural ao programa de humor, onde também eram lembrados os principais acontecimentos do presente e do passado. “Onde é que estavas no 25 de abril?” foi uma questão que perdurou.

De facto, Herman José não estava sozinho neste barco que encontrou ponto seguro ao ponto de o programa ter tido duas edições, ambas passadas a DVD em 2010. Com ele, trabalhava uma equipa de guionistas liderada por Nuno Artur Silva e composta, inicialmente, por João Quadros, Nuno Markl, José de Pina, Miguel Viterbo e Rui Cardoso Martins. Depois, juntaram-se a eles Eduardo Madeira, Filipe Homem Fonseca, Maria João Cruz e Henrique Dias.

No que toca à representação, nesse caso Herman tinha a seu lado uma equipa “caturreira” de atores, como são os casos de Maria Rueff, José Pedro Gomes, Miguel Guilherme, Joaquim Monchique, Lídia Franco e Vítor de Sousa.

“Este homem não é do Norte”, mas é como se fosse. Com 63 anos feitos no passado mês de março, Herman José já conta com mais de 40 de carreira, tendo tido no saudoso Nicolau Breyner o seu pai artístico. Ao longo dos anos, foi conquistando o público português, tanto através da música que sempre o acompanhou, como na representação e, sobretudo, pela criatividade intelectual que sempre demonstrou.

Figura de proa em diversos programa de grande sucesso da televisão portuguesa, a verdade é que foi com ‘Herman Enciclopédia’ que revolucionou o pequeno ecrã, ultrapassando limites e barreiras que, na altura, eram impensáveis, mas tudo com o intuito de oferecer sorrisos aos portugueses, que viviam o fim do ‘cavaquismo’ com alguma depressão à mistura.

Entretanto, o mundo mudou bastante e Herman soube evoluir com ele, como prova o facto de a atual geração também olhar para ele como um ícone. A sua linguagem, do passado e do presente, continua a chegar aos jovens de hoje, o que lhe assegura um lugar na eternidade, tal como uma enciclopédia, neste caso específico do humor.