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Ganhar um Óscar tem a ver com a Psicologia

Ganhar um Óscar da Academia de Hollywood não tem apenas a ver com ter uma grande performance em termos de representação. Tem muito mais a ver com questões sociais e psicológicas, conclui um novo estudo científico.

A investigação, publicada pela Sociedade Britânica de Psicologia (BPS), constata que quem quer ganhar um Óscar, tem mais hipóteses se for de nacionalidade norte-americana e se fizer um filme sobre a cultura americana.

Para chegar a esta constatação, a equipa de cientistas liderada por Niklas K. Steffens, da Escola de Psicologia da Universidade de Queensland, na Austrália, avaliou “o que faz com que um determinado desempenho criativo seja visto como excepcional”, conforme explica o investigador no comunicado de divulgação do estudo.

O método de análise passou pela comparação entre a distribuição dos Óscares, atribuídos pela Academia de Hollywood, e os BAFTAs, concedidos pela Academia Britânica de Cinema e Televisão. Os investigadores analisaram todos os prémios e nomeações, desde 1968, para os melhores atores e melhores atrizes principais.

Notando que as duas Academias assumem que os prémios se destinam a reconhecer os melhores filmes e performances de todo o mundo, a pesquisa constatou que “os atores norte-americanos dominam”, “vencendo mais de 50% de todos os prémios, incluindo Óscares e BAFTAs”.

“Contudo, os atores têm mais probabilidades de ganhar se já partilharam a pertença a um grupo social com os juízes” dos prémios, sublinham ainda os autores do estudo no comunicado.

“Os atores americanos venceram 52% de todos os BAFTAs e 69% de todos os Óscares, enquanto os atores britânicos ganharam 18% dos Óscares e 34% dos BAFTAs”, analisam os investigadores.

No artigo científico, publicado pelo ‘British Journal of Psychology’, aponta-se que “estes são os primeiros dados que fornecem provas claras de que o reconhecimento de desempenhos criativos excepcionais é estimulado pela identidade social partilhada entre os receptores e os protagonistas”.

Steffens esclarece que “se vemos uma dada performance como extraordinária, não é apenas em função da qualidade objectiva dessa performance”, mas porque, “muito mais provavelmente, os percetores reconhecem uma performance realmente brilhante quando, tanto percetores como performers, partilham a pertença a um grupo social”, explica.

A nacionalidade também é um factor que conta no capítulo dos prémios, apurou o estudo, considerando que, “para os Óscares, os actores americanos receberam 67% de todas as nomeações, mas 78% dos prémios”.

E “o mesmo foi verdade para os BAFTAs, onde os actores britânicos ganharam 31% de todas as nomeações, mas 42% dos prémios”, salientam os investigadores.

Até o assunto do filme tem primazia, em termos de importância, relativamente ao desempenho da representação em si.

“Nos Óscares, os artistas americanos contaram 26% de vencedores de prémios cuja performance foi em filmes sobre cultura não-americana, mas 88% de vencedores de prémios cuja performance foi em filmes sobre a cultura americana“, relevam os autores.

Deste modo, Steffens destaca que a percepção “generalizada” de que são as “qualidades objectivas” de uma dada criação que a tornam “original e extraordinária” está errada. Na realidade, esta conclusão “é altamente influenciada pelos grupos sociais de que fazemos parte e que fornecem a base para que o mundo faça sentido”, conclui o investigador.