Off the record

Pinto da Costa: Largos 12.684 dias têm mais um recorde

Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa é somente Jorge Nuno para os (poucos) que lhe são mais íntimos e Pinto da Costa para o resto do mundo.

Carismático e antipático, amoroso e desagradável, pacífico e exaltado, bravo e covarde, inteligente e imbecil… Podíamos passar o dia todo nisto, pois não há adjetivo que não tenha sido atribuído ao presidente do FC Porto. Tudo depende da visão de quem a ele se refere ou do momento em que o faz. Certo é que ninguém lhe fica indiferente.

Foi como gestor desportivo que escolheu fazer carreira profissional, mas muitos asseguram que poderia ter dado um bom político. Apesar de privar com alguns homens do poder, isso nunca se saberá, porque o amor pelo FC Porto falou sempre mais alto. Mais alto do que tudo. Muitas vezes até pôs o clube do seu coração à frente da própria família e dos amigos.

Os atuais presidentes de FC Porto e CM Porto à conversa
Os atuais presidentes de FC Porto e CM Porto à conversa

Essa opção valeu-lhe certamente o afastamento de algumas pessoas que lhe foram queridas, mas aproximou-o de outras e, sobretudo, garantiu-lhe um lugar de honra na galeria dos imortais. Além de ser o presidente em atividade mais titulado de toda a Europa do futebol, Pinto da Costa ainda rompeu as fronteiras do Velho Continente e passou a ser também o presidente com mais tempo consecutivo à frente de um clube em toda a história mundial do futebol primodivisionário.

Foi na passada sexta-feira, 13, que atingiu os 12.684 dias desde que tomou posse pela primeira vez, superando o mítico Santiago Bernabéu, outrora presidente do Real Madrid, que agora dá nome ao estádio da equipa de Cristiano Ronaldo e que morreu no cargo a 2 de junho de 1978.

Para chegar ao lugar mais alto deste pódio, Pinto da Costa teve de travar uma luta que só um predestinado poderia vencer. Viveu no céu e no inferno, foi de uma dedicação constante não só ao clube mas a toda uma região. Foi ele quem ensinou o Norte a ganhar, numa primeira fase como braço direito do falecido treinador e companheiro de armas, José Maria Pedroto. O presidente do FC Porto tornou-se, depois, na voz mais ativa contra o poder central. E fê-lo sem qualquer cargo político, apenas conduzindo o clube azul e branco ao topo da Europa e, depois, ao mundo inteiro, mostrando todo o poder da região onde nasceu Portugal.

Pinto da Costa quando era fumador, junto a José Maria Pedroto, no banco de suplentes do FC Porto
Pinto da Costa quando era fumador, junto a José Maria Pedroto, no banco de suplentes do FC Porto

“Há em Lisboa, muitas coisas bonitas, a delegação do FC Porto, os Jerónimos, muitos portistas. Mas em Lisboa persistem mentalidades que pensam que Portugal é a capital e o resto é paisagem e é essa mentalidade, que no sentido figurado, gostaríamos de ver a arder…”, expressou-se em 1995, a propósito do caso da penhora da retrete das Antas.

Superou o processo conhecido por ‘Apito Dourado’, não se vergou perante o que se pode chamar de enxovalhamento público. Levantou a cabeça e voltou a fazer o FC Porto ganhar, tanto cá dentro, como lá fora. No total da sua presidência, foram 58 os títulos que viu a equipa de futebol azul e branca ganhar.

“Aquilo que é imortal não pode ser destruído e o FC Porto é um clube que teve princípio mas nunca terá fim. Ninguém é capaz de o destruir”, considerou em tempos.

Nesse trajeto, ganhou o ódio dos adeptos rivais, mas mesmo entre esses há sempre quem nutra por ele um sentimento de admiração. Quanto aos portistas, esses idolatram-no como poucos. Mesmo neste período de seca de títulos, em que algumas vozes contestatárias já se fazem ouvir, continua a merecer o respeito que toda a obra que foi fazendo lhe confere. Foi Pinto da Costa quem ‘deu’ ao clube o Estádio do Dragão, o Dragão Caixa, o Museu, o Centro de Treinos do Olival, as Piscinas de Campanhã… e os títulos nacionais, europeus e mundiais. No futebol e noutras modalidades.

Pinto-da-Costa

“O nosso presidente ultrapassa hoje todos os recordes. São 58 títulos. Para nós é um orgulho estarmos com ele e oxalá que seja por muito mais tempo”, referiu o atual treinador, Nuno Espírito Santo, sobre o mais recente feito alcançado por Pinto da Costa.

Figura notável e incontornável, Pinto da Costa também conheceu o lado mais negro da fama que conquistou com a sua obra. A constante dedicação à causa portista abalou-lhe os alicerces familiares. Costuma dizer-se que ‘atrás de um grande homem está sempre um grande mulher’, mas Pinto da Costa até teve várias. Grandes ou não, a verdade é que os seus relacionamentos amorosos fizeram capas de jornais e revistas.

Pinto da Costa separou-se de Fernanda Miranda em dezembro de 2016
Pinto da Costa separou-se de Fernanda Miranda em dezembro de 2016

Ainda no âmbito da sua vida privada, chegou até a estar de costas voltadas com o filho Alexandre, mas com o avançar da idade devolveu-o ao seu dia a dia e, como consequência, perdeu outros camaradas da guerrilha que vai fazendo no seio do futebol português com o único objetivo de levar o seu clube a bom porto.

Pinto da Costa com os filho Alexandre e Joana e o neto Nuno, no dia do seu 79.º aniversário
Pinto da Costa com os filho Alexandre e Joana e o neto Nuno, no dia do seu 79.º aniversário

Agora com 79 anos, continua a somar dias de liderança a um recorde que já é seu. Esse é, no entanto, um título individual que seguramente trocaria por um coletivo conquistado pelo FC Porto. Porque, conforme disse um dia, “largos dias têm 100 anos” e a sua obra nos dragões promete perdurar no tempo. Para toda a eternidade.