Atualidade

Uma em cada quatro famílias não revela aos filhos que foram adotados

Um estudo da Universidade do Porto realizado com 120 famílias adotivas mostra que 26% dos pais optaram por não contar à criança que esta foi adotada, reflexo de uma comunicação fechada que mantém a adoção como um segredo familiar.

No IPA – Investigação sobre o Processo da Adoção – Perspetivas de pais e filhos, estudo que envolveu crianças entre os cinco e os 15 anos e onde foram entrevistados os pais, os avós e os filhos, os resultados indicam ainda que 41% destas famílias “simplesmente revelam a adoção”, enquanto 33% têm uma comunicação aberta e frequente sobre este tópico.

“A qualidade do ambiente familiar é essencial para o desenvolvimento emocional das crianças adotadas”, sendo a comunicação “amplamente reconhecida” como um fator determinante dessa qualidade, indicou a coordenadora do projeto desenvolvido pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, Maria Barbosa-Ducharne.

De acordo com a investigadora, as crianças devem saber pelos pais que são adotadas, “no contexto de uma relação afetiva, calorosa, segura, de confiança e onde se sintam à vontade para colocar dúvidas e exprimir as suas emoções”.

Isso não “depende da quantidade de informação sobre o passado da criança”, referiu a investigadora, acrescentando que “pode-se falar do que se sabe mas também do que não se sabe, quando a procura pelas respostas é feita em família”.

Verifica-se, no entanto, que a revelação parece ser “despoletada pela entrada na escola”, possivelmente pelo “receio que a criança venha a saber por outros da sua adoção”.

Também os avós são importantes para uma comunicação positiva no ambiente familiar, par além de serem “figuras fundamentais no apoio às famílias”, visto que é a eles que os pais recorrem, “muitas vezes”, para cuidarem dos filhos enquanto trabalham e para os irem buscar à escola, indicou a investigadora.

“Tal como nessas famílias não adotivas, nas adotivas, em certos momentos do desenvolvimento dos netos, os avós vão desempenhando papéis específicos – muitas vezes na adolescência quando há algumas situações de crise, de conflito e de atrito com os pais, os jovens encontram nos avós uma figura que os apoia e os ouve e com quem podem partilhar as dificuldades que têm”.

Os resultados gerais mostram, segundo Maria Barbosa-Ducharne, a relevância da preparação dos candidatos à adoção para a parentalidade adotiva e que a comunicação é um “processo desenvolvimental”, que não se inicia apenas quando a criança chega a casa, mas que evoluiu ao longo de todo o processo, desde o momento da tomada de decisão em adotar e durante toda a vida da família adotiva.

Desde 2009, todos os candidatos que se propõem à adoção têm oportunidade de fazer uma formação específica nesta área.

“Uma família adotiva é, antes de mais, uma família, mas tendo está especificidade tem que fazer tudo que as outras fazem e mais algumas coisas. Lidar com a história da vida da criança, ter competências para compreender as dificuldades emocionais e relacionais”, são alguns dos exemplos.