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Carlos Cruz e o regresso à televisão: “Não vou bater à porta de ninguém”

Está em liberdade condicional desde julho e tem já vários projetos profissionais em mãos. Carlos Cruz, outrora conhecido como o ‘Senhor Televisão’, continua a divulgar a sua autobiografia ‘Uma Vida’, lançada em março deste ano, e prepara-se para outros desafios. Que, para já, não incluem a televisão.

“O regresso à televisão não depende de mim. Não vou bater à porta de ninguém. Se alguma porta se abrir, vou fazer os possíveis para aproveitar a oportunidade, mas só o farei desde que o projeto em si tenha o mínimo de qualidade e dignidade, caso contrário não interessa voltar só por voltar”, contou Carlos Cruz à MoveNotícias, durante a sessão de autógrafos que deu na Feira do Livro do Porto, no domingo, dia 11.

“Não tenho saudades da televisão. Não sei se a televisão tem saudades de mim. Se puder haver um casamento de conveniência de grande qualidade, voltarei”, acrescentou, divertido.

Depois do lançamento da autobiografia, que já vai na 2ª edição e está quase esgotada, vêm aí mais obras da sua autoria. “Estou a escrever um romance de ficção pura. Um cidadão que passa por uma situação de vida puramente surrealista. Não tem nada a ver com processos judiciais. É a luta dele para repor a verdade, não no sentido de justiça. É mesmo ficção pura”, garantiu.

Ao mesmo tempo, tem escrito “contos curtos que depois vejo se edito ou não”. Certa é a publicação, no início do próximo ano, do livro com a transcrição de algumas das entrevistas que fez no programa ‘Carlos Cruz Quarta-Feira’ (1991). Fora “outros projetos e ideias”, que não revelou.

“Não consigo estar parado. Preciso estar sempre em ebulição, pelo menos, mentalmente para me sentir vivo”, confessou.

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Apoio e carinho do público

Desde que saiu do Estabelecimento Prisional da Carregueira, em Sintra, Carlos Cruz foi viver para casa da filha Marta. O regresso à realidade tem sido, diz, “normal”. “Têm sido dias que, segundo os padrões habituais, têm sido normais. Ao princípio foi o reencontro com sabores e à procura de ruas, pois estava desorientado”, descreveu.

Teve duas semanas dedicadas ao descanso. “Fiz umas férias no interior do país que é vocacionado para tratar do espírito e meditar e estive uma semana no Algarve com o meu amigo Carlos do Carmo e a mulher”, recordou.

Agora, Carlos Cruz anda a promover o livro ‘Uma Vida’ e por isso tem sentido mais apoio e carinho do público. “A opinião pública tem vindo a mudar, felizmente. Porque as pessoas não são burras e não se enganam todas as pessoas para sempre. Enganam-se algumas pessoas durante uns tempos mas não se engana toda a gente sempre”, contou.

“E começam a interrogar-se e a descobrir que de facto ocorre alguma coisa podre no reino da Dinamarca. Tenho tido cada vez mais solidariedade, manifestações de apoio. Este livro não tem nada a ver com o processo. É a minha biografia e pára precisamente no início do processo. Mas tem sido uma receção muito boa. As pessoas que leram, quando me escrevem, dizem que estão a gostar muito”, continuou Carlos Cruz.

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Processo judicial
Entre as dezenas de pessoas que fizeram questão de ter um autógrafo ou trocar uma palavra com o ‘Senhor Televisão’, ouviu-se mensagens de apoio: “Grande homem. Você é um herói. No dia em que ficar mesmo inocente, vamos fazer uma festa”, gritou uma apoiante.

Na Feira do Livro estiveram seguidores habituais de Carlos Cruz, onde se inclui Orlando Cruz, candidato à Câmara de Vila Nova de Gaia como independente pelo Partido Unido dos Reformados e Pensionistas (PURP).

O antigo apresentador, de 74 anos, esteve na direção de informação, de programas e de coordenação da RTP1 e foi diretor de antena da TVI. Criou a produtora CCA – Carlos Cruz Audiovisual e passou também pela SIC, onde teve de interromper a carreira devido ao escândalo Casa Pia. Foi detido em 2003.

Cumpriu quatro anos de prisão dos seis a que foi condenado por crimes de abuso sexual. Está em liberdade condicional até 2 de dezembro de 2017, se o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem não se pronunciar entretanto. “Se sim, suspende a liberdade condicional e a sentença. Quero mesmo que se repita o julgamento”, avançou.

Fotos: Ricardo Júnior