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Nuno Espírito Santo: o salvador que não é Jesus mas quer a Vitória do Dragão

Depois das apostas falhadas em Paulo Fonseca, Julen Lopetegui e José Peseiro, o presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, escolheu Nuno Herlander Simões Espírito Santo para salvar o “banco mau” dos azuis e brancos.

Conhecido por Nuno Espírito Santo, ou apenas Nuno, o treinador regressou assim ao clube pelo qual ganhou tudo o que havia para ganhar, enquanto jogador, e será ele a fazer frente, em 2016/17, aos rivais lisboetas dos dragões, liderados por Jorge Jesus (Sporting) e Rui Vitória (Benfica).

Aos 42 anos, assumiu o projeto mais ambicioso e exigente da sua ainda curta carreira de treinador. Depois de Rio Ave e Valência, chega àquela que também é a sua cadeira de sonho e fá-lo com o único objetivo de recolocar o Porto no caminho das vitórias. E dos títulos. Não podia ser de outra forma. Afinal de contas, a história da sua carreira desportiva é toda ela escrita em letras de ouro.

Nuno espirito Santo

Natural de São Tomé e Príncipe, Nuno começou a despontar como guarda-redes na equipa do Guimarães. Em meados dos anos 90 do século passado, conheceu numa discoteca aquele que viria a tornar-se num dos seus melhores amigos e principal impulsionador da sua carreira. O seu nome? Jorge Mendes!

Numa altura em que ainda estava longe de ser o super-agente que é hoje em dia, ao juntar na sua carteira nomes como os de Cristiano Ronaldo, James Rodríguez ou José Mourinho, só para citar alguns, Jorge Mendes lançou-se no mundo empresarial do futebol ao intermediar a transferência de Nuno Espírito Santo, do Guimarães para o Deportivo La Coruña.

No verão de 2002, o então guarda-redes voltou a socorrer-se do amigo para cumprir mais um sonho de carreira, depois de seis anos a jogar em Espanha. Nuno queria vestir a camisola do FC Porto e como Jorge Mendes mantinha boas relações com Pinto da Costa, a transferência consumou-se com o aval do então treinador portista, José Mourinho.

Em dois anos e meio de azul e branco foi quase sempre relegado para o banco de suplentes por Vítor Baía, como se o destino o estivesse a preparar para assumir o comando técnico do Porto, o que viria a acontecer mais de uma década depois.

Apesar da condição de suplente, juntou ao seu currículo os títulos de vencedor do Campeonato Nacional, da Taça de Portugal, da Liga dos Campeões, da Taça UEFA e da Taça Intercontinental. Consequentemente, começou a conquistar a admiração dos adeptos portistas.

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Em janeiro de 2005, um ano atribulado para a equipa portuense, transferiu-se para o Dínamo Moscovo, da Rússia, juntamente com outros jogadores representados pelo seu empresário, como Seitaridis ou Maniche. Permaneceu lá por uma época e meia, mas quis voltar a Portugal e fê-lo pela porta do Aves, na época de 2006/07.

Foi por pouco tempo. Logo no ano a seguir, regressava ao clube do coração, agora para ser suplente de Helton e com Jesualdo Ferreira como treinador. Por essa altura, começou a ser conhecido como o “capitão sem braçadeira” e a dar sinais de liderança próprias de um treinador de futebol.

Mas Nuno ainda era jogador e foi nessa qualidade que, em 2009/10, surgiu no Auditório José Maria Pedroto, no Estádio do Dragão, para ser a voz da indignação portista pelos castigos aplicados a Hulk e Sapunaru, no caso que ficou conhecido como o do “Túnel da Luz.”

Mesmo que o capitão da equipa do Porto fosse Bruno Alves, acabou por ser Nuno Espírito Santo o escolhido para falar ao país. De improviso, soltou toda a revolta que ia na alma da nação portista e criou um grito de guerra que ainda hoje perdura na boca dos dragões: Somos Porto!

No final dessa temporada de 2009/10, pendurou as luvas, mas não ficou no desemprego ou tão-pouco deixou o mundo do futebol. Nuno que já tinha convencido Jesualdo Ferreira das suas aptidões técnicas, seguiu como seu adjunto para o Málaga (Espanha) e, posteriormente, para o Panathinaikos (Grécia).

Em 2012/13, resolveu aventurar-se sozinho na liderança técnica e, mais uma vez, contou com a ajuda do amigo de sempre. Jorge Mendes colocou-o no Rio Ave, onde viria logo a conquistar o rótulo de treinador-sensação. Na época seguinte levou os vila-condenses à final da Taça de Portugal e protagonizou mais um episódio memorável.

Assim que assegurou a presença no Jamor, nas meias-finais contra o Sp. Braga, Nuno foi normalmente à conferência de imprensa e o insólito aconteceu. Enquanto falava aos jornalistas, o seu telemóvel tocou e logo atendeu a chamada. De seguida, perguntou qual era a câmara que estava em direto, visou-a e atirou: “Isto é para ti, por ti. Promete-me que vais estar no Jamor. Prometes-me? Adoro-te.” Inicialmente pensava-se que estivesse a falar com um seu familiar chegado, mas não. Do outro lado da linha, veio a saber-se mais tarde, estava… Jorge Mendes.

No ano seguinte, Nuno dava mais um salto na sua carreira, no caso para o Valência, e logo viria a repetir o título de treinador-sensação, agora do campeonato espanhol. Mas em 2015/16 não resistiu à turbulência administrativa que se instalou no clube e acabou por sair, num daqueles males que vem por bem.

Recatado por natureza, sempre fez questão de blindar a sua mulher e filhos à exposição mediática que o atinge, mas agora vai tê-los por perto a apoiar esta sua aliciante aventura no FC Porto. Essa mesmo que lhe devolveu o sorriso e o fará correr com gosto pelo primeiro título como treinador.

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