De chorar por mais

A Senhora D. Aidé

Aidé, em tempos idos com outra grafia mais solene e distinta, é um nome muito próprio e familiar das bonitas terras de Paços de Ferreira.

Irrita-me um pouco que um burgo com tanta história e tão bons pergaminhos leve sempre com o epíteto de “capital do móvel”. Sem ter nada contra a promissora indústria do mobiliário (a não ser que nada ganha em ser regional) e o irrequieto empreendedorismo dos Pacenses, existe mais vida nesta região do que aquela que emana do virtuosismo do seu mobiliário.

E uma das vidas que sobram decorre de outros virtuosismos, menos da mesa como objecto, mas antes daquilo que se põe em cima dela. De facto, é rica a gastronomia de Paços e esta D. Aidé não deslustra na constelação de pequenas propostas que vale a pena descobrir no entre Douro e Minho.

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Paços com a sua proximidade a Freamunde é terra de capão, que constitui porventura uma das ofertas mais irresistíveis da gastronomia da região. Assado e recheado no forno, substitui com vantagem o peru natalício, dado o vigor e a suculência mais forte que emanam das suas carnes rosáceas. Pode ainda servir de amparo a um arroz do mesmo que já vimos tratado de maneiras diversas (até com carqueja como o de perdiz) que quase nunca dispensam os usos dos miúdos.

Aqui na Casa Aidé o capão não tem presença fixa na lista, mas no seu tempo faz-se com o rigor que a região exige.

A casa é bonita e elegante e serve também de Hotel para quem depois de saborear o que a erra dá, queira aqui descansar. A sala, dividida em dois é prazenteira, com boa amesendação e um serviço muito cuidadoso.

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Passemos à substância que a Senhora D. Aidé nos propõe pelas mãos do Chef Joaquim Gomes. Para entradas recomendo a vieira gratinada. Felizmente que a vieira, pela mão da nova geração de Chefs de cozinha tem entrado mais profusamente na nossa gastronomia. A textura suculenta da carne permite que a vieira se apresente de diferentes e sempre interessantes maneiras. Está ali carnuda, com sempre, mas suavizada com uma boa emulsão que ia a gratinar. A barriga, a espetadinha de lulas e o queijinho fresco com vinagrete e orégãos, também não desmerecem e preparam-lhe o estômago para outras andanças. Nos peixes há um pouco de tudo. E por isso não pense que aqui não há bom peixe para grelhar. Neste tempo de canícula que bem sabe a rigorosa maionese com filetes de pescada, muito bem feitos nesta casa. Prove o bacalhau à narcisa e perceba que fora da capital do Minho também se faz este prato com todo o rigor. O polvo foi no entanto de tudo o que mais me impressionou. Muito bem à lagareiro, mas provavelmente ainda melhor à bordalesa com arroz branco e torradinhas como manda a boa tradição. Nas carnes realce, claro, para o cabrito e o anho que se fazem aqui com uma única coisa em comum – a arte com que são feitos que mostra bem as competências que D. Aidé tem na sua cozinha. O peito de frango recheado com alheira, umas vetustas tripas à moda do Porto, uns lombinhos de boi com batata a murro, enfim tudo propostas que sinalizam uma perfeita cozinha regional.

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Nas sobremesas para além do mais tradicional, ficou-nos a namorar o palato uma “Panacota” com frutos vermelhos e o famoso requeijão com queijo de abóbora.

Lista de vinhos honesta, sem ser demasiado ampla e, porque não é demais dizer, um serviço à altura do que a casa já exige.

Pois bem, caro leitor, se passar em Paços, não esqueça que para além de aqui se fazerem lindíssimas mesas, também não se descura o que de bom podemos pôr em cima delas: Esta santa cozinha regional de que Paços de Ferreira é, seguramente, uma das boas capitais!

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Restaurante Aidé
(Paços Ferrara Hotel)
Av. Primeiro de Dezembro 137,
Paços de Ferreira
Tlf.: 255962548
E-mail: [email protected]