Um Porto Novo
Na minha geração desconfiávamos dos Hotéis. Ou melhor confiávamos muito neles no que ao sono e à refeição da manhã dizia respeito. Mas só isso! Mais, o imaginário da minha geração quanto ao que diz respeito à gastronomia dos Hotéis é ambivalente ou contraditório. Quero dizer – por um lado não havia pequeno-almoço como o dos Hotéis, mas verdade verdadinha o impulso gastronómico dos ditos por ali se ficava, como se o “core” do negócio definido no habitual APA (alojamento e pequeno-almoço) fosse um serviço que se apresentava como um prolongamento do merecido descanso que os Hotéis proporcionavam.
Os Hotéis não concorriam assim com os restaurantes – quando o faziam perdiam, mas com os cafés onde invariavelmente ganhavam, dada a sofisticação e variedade que davam à primeira refeição que aqui era servida de forma superior.
Talvez por isso não nos lembre sempre a visita a um Hotel quando temos que almoçar ou jantar. E teremos até que, num esforço de auto-convencimento recordar que os melhores Chefs de cozinha tiveram a sua escola nos Hotéis, com estruturas e metodologias melhores e mais sofisticadas do que aquelas a que um restaurante pode aspirar.
Hoje os Hotéis recreiam até na disposição e decoração da sala, ambientes mais intimistas que não existiam no passado e que os transformam em locais únicos e especiais.
Assim acontece no Porto Novo. O sofisticado mas elegante restaurante do Hotel Sheraton no Porto.
O Porto Novo já foi e continua a ser casa de grande Chefs de cozinha, mas o ambiente bonito e acolhedor com a sua Cellar Wine e as mesas a criar espaços ora mais animados, ora mais tranquilos, de acordo com a vontade dos seus aficionados que vão muito para além dos alojados no Hotel.
Ao almoço, o Porto Novo seguiu a tendência do menu executivo e por pouco mais de 20 euros tem acesso a excelentes propostas alternativas, de peixe e de carne, numa refeição completa coerente e normalmente muito bem construída.
Revisitamos o Porto Novo recentemente e o prato do dia para além de nos proporcionar de entrada uma excelente salada, prolongava-se por um arroz caldoso muito tentador, com bacalhau e grelos, que são uma daquelas duplas indiscutíveis da gastronomia do norte de Portugal. Porque o tempo nos permitia quisemos ir mais longe e provamos o peixe – em boa hora, porque a garoupa assada com legumes estava simplesmente divinal. A crosta voltada para cima realçava o crocante que se deve atingir na assadura, sem permitir que o peixe se tome demais dos calores do forno e perca o seu ponto suculento de humidade. E os legumes que também se não devem “melar” com excessos de lume, para manterem a truculência viva dos seus caules e da sua flor, casavam tão bem com o assado que logo esquecemos os anos todos em que nos impingiram que hotel é só para dormir ou tomar o pequeno-almoço.
Ainda estimulados por tanta sapidez atrevemo-nos num lombo de veado com frutos vermelhos e legumes salteados e, uma vez mais, agradecemos à providência e ao Chef do hotel tão boa lembrança. O veado estava no ponto de calor, sobre o encruado, com a carne macia e cortada da doçura que às vezes tem. Os legumes e os frutos vermelhos acolitavam sem nenhum reparo o resto da refeição.
Depois uma tarte tipo quente frio, fresca e bonita rematava uma boa refeição que foi generosamente regada com vinho branco do Douro Superior.
O serviço, bom o serviço é claro que é do melhor que temos. Atento, rigoroso, cumpridor, sem demasiadas familiaridades, mas sem nunca acharmos que podemos ficar desprevenidos.
Caro Leitor, este Porto Novo que aqui lhe apresento encarna bem o Novo Porto que hoje conhecemos – alegre, inventivo e gastronómico, a completar uma oferta generosa e ampla que transforma a cidade num dos melhores destinos turísticos do Mundo. Para os da minha geração, acreditem, vão sem preconceitos, porque à primeira garfada cai o mito de que este hotel afinal se assume (também) como um dos grandes santuários da gastronomia da cidade!
FICHA TÉCNICA
Porto Novo
R. Ten. Valadim 146
4100-476 Porto
Tlf.: 22 040 4000
