De chorar por mais

Restaurante Casa Inês

A Casa da Sereia Inês

Filha de peixe sabe nadar…

E a Inês desta estória, que não é de Castro, tem o mesmo romantismo de ser a “Né da Casa Aleixo”.

Nasceu por isso com o nariz a cheirar os estrugidos fartos, ou as assaduras lentas de uma grande Casa de comer – talvez a mais afamada na zona de Campanhã.

E nesse amorável ambiente familiar apreendeu com deleite a fazer de tudo. E a fazer de tudo com dois únicos segredos – a paixão que sempre teve pela cozinha e simplicidade de quem sabe que o segredo principal está no valor da matéria-prima e no respeito por uma cozinha de tradição que foi marca da sua casa de família e que é também marca desta outra casa que concretiza o sonho de um negócio próprio que uma desavença familiar proporcionou.

À fama antiga da Família, somou a fama do espaço. Quem se não lembra da famosa Adega Pacheco com as suas saudosas costelinhas adobadas que agora se escondeu, envergonhada, para os lados de Ermesinde?

Pois é na antiga e telúrica Adega Pacheco que Inês assentou os seus tachos e restantes arraiais…
Tudo feito para correr bem!

E corre. Porque Inês teve a inteligência de não inventar e continuar a acreditar que é possível fazer um grande restaurante de família, baseado no melhor da nossa gastronomia galaico-duriense.
Um dos ícones da Família é o polvo. E Inês assim fez. Não desprimorou, não acrescentou, não inovou. Deixou estar, naquela sápida quietude que fez do Aleixo a casa que é!

E polvo lá vem de perna aberta, inteira, com o seu polme fino a envolver uma carne macia que é princesa de todos os mares. Ao arroz de polvo, pergunto eu sempre de forma cautelar, se é seco ou se é malandro? Gosto muito de caldosos, mas tenho sempre apreensão a caldas pré-feitas que servem para tudo. E no polvo que é um príncipe de sabores fortes, o caldoso mesmo feito a preceito não se recomenda. O arroz pode ficar húmido mas nunca caldoso. E sempre aproveitando a água que o Polvo libertou numa cozedura lenta, feita habitualmente a seco. Gordura sim, o arroz de polvo quer gordura e uma folha de louro para ajudar a cortá-la. É engraçado esta forma de compensar. Mas é como é, e muitas vezes aí está o segredo das grandes cozinhas.

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Do arroz com seus filetes de polvo estamos falados. Quem ainda os não provou que os prove, porque não precisam de nenhuma especial propaganda. São o que são e o que são é do melhor que o Norte tem para oferecer.

Quem trabalha assim o polvo também o faz com o bacalhau e por isso não é estranho que a Inês lhe proponha uns filetes de bacalhau ou de pescada, com a mesma preocupação na matéria-prima e sempre bem acolitados, com uma salada russa, um arroz de bacalhau (que já suporta melhor a forma caldosa) ou um arroz (este sim) caldoso de feijão.

A segunda prova de fogo desta cozinha tradicional são os assados. E chegam para ficar convencido que isto é coisa séria, daquelas que não podemos levar com a leveza de efémero passante. A vitela, com a gordura que lhe faz falta, mais um azeite de belíssima proveniência, a batata nova, e os grelos reluzentes que pintam de cor a pingadeira onde tudo é servido, constituem abençoada proposta feita com a paixão que esta Inês põe não em Romeu, mas na cozinha que em boa hora abraçou.

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Claro que o que serve para a vitela, serve para o cabrito – belíssimo, ou qualquer prato de forno que aqui é controlado sem magias despropositadas, apenas com a mão segura e atenta de Inês.

Claro que podíamos passear aqui pela cozinha tradicional, ou por algumas novidades (segredos?) muito próprios desta casa, mas temos que deixar um espaço de descoberta ao caro leitor, porque aqui já lhe afiançamos tudo o que há para afiançar. Casa segura, séria, da grande cozinha tradicional do norte de Portugal.

Serviço atento, diligente e familiar e uma carta de vinhos que nem se sente porque se beber o vinho da casa, das boas encostas do Douro, fica sempre bem servido.
As sobremesas mantêm o timbre da cozinha tradicional, com os doces de ovos, os pudins, a rabanada e o pão-de-ló.
Uma atenção especial à lampreia que está a chegar e que aqui tem honras especiais quer na versão bordalesa, quer no arroz de lampreia.

E pronto voltamos ao princípio – filha de peixe sabe nadar! E Inês, que hoje não é do Aleixo, soube afirmar-se com a sereia encantada da família!

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FICHA TÉCNICA
Restaurante Casa Inês
Rua Miraflor 20,
4300-332 Campanhã
Porto
Tlf.: 225 106 988