Off the record

João Perry: “Um ator de ouro, com um coração gigante”

Aos 75 anos, é um dos nomes de referência na representação. Discreto e bem-disposto é nas personagens que João Perry liberta características que não lhe pertencem, mas provam um talento fora de série.

“Um ator de ouro, com um coração gigante” é como a apresentadora Bárbara Guimarães o descreve, resumindo uma admiração que muitos dos privam com Perry sentem.

Desde segunda-feira, dia 7 de setembro, é como o empresário nortenho António Castro de Aguiar que o podemos ver em “Coração D’ouro” na SIC, embora também possamos recordar a sua prestação na novela “Fascínios” repetida ao cair da noite na TVI.

Na ficção, a personagem tem um cancro terminal, mas o protagonista não deixa que isso o afete na vida real. “Não tenho medo! Posso ser inconsciente, mas considero os últimos dias como a última surpresa que temos na nossa existência. A morte é uma surpresa, a gente não sabe como é. Claro que tento guardar essa surpresa para mais tarde, tenho muitas coisas para ler e fazer. Apetece-me gastar o que comprei”, confessou à margem do lançamento da novela no Porto.

A idade também não o apoquenta, até porque “essa história da idade é uma coisa que notam os outros que sabem que nós temos”. “Mas, se calhar por patetice minha, não noto muito essa coisa da idade a não ser quando não caibo dentro dos fatos antigos, mas isso é porque me deixei engordar demais”, assume, acrescentando que não é “uma pessoa que me possa queixar de doenças”.

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Depois de ter interpretado “personagens gordinhas”, João Perry quer emagrecer, sendo certo que tem noção da dificuldade: “Tenho ginásio em casa, mas não faço. Tenho vontade, mas estou sempre a adiar. É preciso um objetivo e uma disciplina grande e parecendo que não, quando se está a gravar, as ginásticas não são compatíveis com o nosso trabalho e as dietas ainda menos pois as comidas de estúdio são na base das sandes”.

Na trama escrita por Pedro Lopes vai morrer não por causa da doença, mas assassinado por Catarina (Mariana Pacheco) que não sabe ser sua neta e é guiada pela ambição de subir na vida a todo o custo. A jovem é filha de Maria Ferreira interpretada por Rita Blanco e João Perry descreve-a como “muito engraçada e uma pessoa muito sensível”. “Ela não é uma pessoa que caia no colo dos outros, mas com o tempo percebemos que tem essa retração porque é uma pessoa tímida como quase todos nós atores somos. É preciso dar-lhe tempo para se tornar íntima e se soltar”, define.

Enterrado na SIC, o artista já tem regresso marcado à TVI onde vai integrar o próximo projeto. Recorde-se que João Perry deixou a estação de Queluz de Baixo em agosto de 2012, quando terminou o contrato de exclusividade que os unia. Tinha feito antes “Sedução”.

“Recebi o convite do José Eduardo (Moniz) e eu gosto imenso de trabalhar para o Zé Eduardo. Ele é uma pessoa muito interessante e com uma dinâmica boa, um homem que põe em prática os projetos e sabe o que quer, sabe pedir, pois isto tudo não acontece por milagre. Acontece com alguém que sabe dirigir energias e coordenar  forças e o Zé Eduardo é um exemplar disso”, conta, reconhecendo estar “curioso por voltar”.

Ainda sem saber com quem vai contracenar, Perry tem a certeza de que vai “reencontrar muitas pessoas”, até porque já trabalhou muitos anos na Plural. Certo de que se vai entusiasmar quando começar os ensaios, não esconde que tem pena de abandonar o projeto da SIC “tão cedo”. Isto porque “gosto imenso da Patrícia (Sequeira) que é a diretora do projeto. Gosto muito de trabalhar com ela, da equipa, dos câmaras, da produção”, afirma.

Homem forte do teatro tem planos para voltar também aos palcos brevemente e projetos já para daqui a dois. E, “até ver, tenho energia para tudo isto”, conclui quem, por influência familiar, se estreou na atividade teatral aos 12 anos para nunca mais parar.

Com formação nos Estados Unidos e muitos trabalhos de destaque no currículo, João Rui de Morais Sarmento Paquete (o seu nome verdadeiro) foi distinguido este ano com o Prémio Sophia para melhor ator secundário pela participação no filme “Os Maias- Cenas da vida romântica” de João Botelho.

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Fotos: José Gageiro