Tozé Santos e Sá

Advogado

Jogo!

Por culpa das mentalidades, a humanidade nunca teve tanto para ser feliz, mas nunca foi tão infeliz. O mundo de prazer prometido afinal não ajuda à felicidade, sobretudo nas relações.

Tão depressa se escrevem comunicados anunciando a liberdade e os seus benefícios – só fazem o que querem e quando querem -, como, no dia seguinte, se anuncia que se está apaixonado, que essa pessoa que se conheceu ontem é tudo na vida e que já moram juntos ao fim de uma semana.

Se na primeira parte tal resulta em parte devido a mais um lapso na vida sentimental, daqueles que todos dizemos que nunca mais… no segundo, sempre há um que poupa na renda.

É que, de vez em quando, lá se cai no engodo, de uma conversa da treta, lá se anda feliz e contente com o que se pensa ter. Infelizmente dura cada vez menos, apesar de se apregoar que se quer cada vez mais. Com precisão, acerta-se quase sempre em quem não vale a pena, atraídos, conscientemente, pelo perigo e pelo que dá “pica”.

Felizmente, decidem mal e não tarda nada voltam a estar disponíveis no mercado. O afastamento útil, para dar um ar sério à coisa, termina após confirmação do engano. É fácil de detetar a inclusão na lista de dispensas, cá estão os que já cá estavam à espera, mas agora cheios de reconhecidas qualidades…

Vêm com uma quantidade grande de defesas, medos de aceitar ou seguir sentimentos, arriscar ou simplesmente pela noção da podridão que nos rodeia.

Por necessidade, vício ou para manter a auto-estima, há que manter as aparências. Segundo as regras, tem de ser tudo feito sem barulho, sem conhecimento externo. Chegado aqui, surge o problema do dia seguinte. É que o sol do novo dia traz uma nova visão e, o que era, já foi. Não é um jogo fácil e requer habilidade, ocultação de vontades e um faz de conta que, já não te conheço.

É só preciso andar à chuva, porque como se sabe, quem anda à chuva molha-se. A vantagem competitiva é fazer de conta que se é parvo.

Por isso, e como defesa pessoal contra intempéries é importante nunca deixar de atacar vários objetivos ao mesmo tempo. Se um falhar, ou se desencaminhar, nunca se fica descalço. E da maneira que isto está é bem capaz de ser preciso formar um plantel bem grande, com equipa B, para conseguir arranjar um ponta-de-lança concretizador.

Manter um plantel é trabalhoso. O mercado está sempre aberto. Recebem-se propostas melhores e, já se sabe, as transferências são livres e instantâneas, algumas sem pré-aviso e em forma de mensagem de texto.

Quem sabe jogar este jogo com mestria, safa-se. Só é preciso saber aguardar, ter uma boa dose de mau caráter e dar um ar de que se é o que não é, mas com simpatia.

Aqui não há campeões, só medalhas de consolação enferrujadas.

Vou ali (sou bicampeão) tirar um apontamento… Até terça!