Gilda Mendes

Empresária e Gestora de Eventos

Da massa para o gourmet

Era bom que desse para todos. Mas não dá.

Continuam na ordem do dia as dificuldades do nosso comércio tradicional e quem tem alguma ligação e carinho por este sector sente na pele as ondas destas instabilidades, sem saber muito bem como vão ser os apetites no mês seguinte.

Entraram por aí dentro as grandes cadeias internacionais e trouxeram o que só conseguíamos encontrar se pudéssemos viajar por ai fora. Em meia dúzia de anos aumentaram drasticamente os espaços comerciais para uma população que, ao contrário, diminuía a olhos vistos.

Lembram-se quando, no Porto, só existia o Shopping Brasília? Eram praticamente as mesmas pessoas a comprar e provavelmente havia 1/3 das lojas que existem hoje, ou menos! Resolvi contar os centros comerciais que foram nascendo no Grande Porto. Rapidamente cheguei aos 16 e à pergunta: “Como é que nós conseguimos comprar tanto, se temos pouco dinheiro, para se manterem tantas lojas com a porta aberta?” Não conseguimos… Não dá para todos e doeu mesmo aos mais pequenos. O comércio tradicional começou com fortes sinais de quebra e foram desaparecendo, uma a uma, várias lojas que cresceram com todos nós.

Gosto de acreditar que agora estamos num contra ciclo! Já passamos a fase da euforia, satisfeitos por termos acesso a tanta coisa que há em todo lado mas agora, agora estamos mais exigentes, não queremos ser engolidos pela massificação, gostamos de poder procurar o que nos faz sentir mais especiais.

Andava uma amiga minha às voltas em Londres à procura de uns sapatos diferentes, fugir das grandes cadeias e mais ainda do que podia encontrar por cá. Encontrou, gostou, comprou. Olhou para a etiqueta… et voilà eram portugueses! É que isto de só gostar do que é de fora dá para os dois lados. Eles também querem o que é nosso!

Somos todos diferentes e não obstante a condução da moda por uma determinada estrada cada um decide a sua variante e a saída mais perto de “casa”. Assim é que deve ser. A produção em série ajuda mas no fim… nós é que devemos e podemos decidir. Afinal o que mais ouvimos é… “queria uma coisa diferente”. Eu adoro massa mas bem cozinhada e com alguma coisa boa a acompanhar.

“Pela primeira vez na história sabe-se exactamente para onde se caminha. E citou a divisa planetária: Comunidade, Identidade, Estabilidade. Grandiosas palavras. Se pudéssemos bokanovskizar indefinidamente, todo o problema estaria resolvido. Resolvido por Gamas do tipo normal, por Deltas invariáveis, por Epsilões uniformes. Milhões de gémeos idênticos. O princípio da produção, em série aplicado, enfim à biologia.” In “Admirável Mundo Novo” Aldous Huxley