Gilda Mendes

Empresária e Gestora de Eventos

O Novo “Admirável Mundo Novo”

Este admirável mundo novo mostrou-nos um novo mundo admirável.

É curioso. Será por estarmos nestas últimas décadas tão “atolados” de novas tecnologias, que nos permitem ver tudo e mais alguma coisa do que se passa lá fora, que despertamos tanto para o que se passa cá dentro? Tecnologias que nos deixam ver tantas coisas da vida de cada um. Que também nos permitem prolongar a vida de outros, mais velhos, sem grande capacidade para os conseguirmos acompanhar como mereciam. Que nos permitem saber e conhecer, tanta coisa, à distância de um simples clique.

Coincidência, ou não, foi depois deste salto tecnológico que começamos a valorizar mais o que se passa cá dentro. É mesmo como se diz… se estiver alguém a correr ao meu lado, eu corro mais depressa.

Já sabemos que tudo é cíclico, claro. Mas em alguma altura (pelo menos os da minha geração) se lembram de tanto ouvirem falar das nossas coisas mais tradicionais, de as preservar e as fazer reaparecer? De como tudo o que é nosso é bom e do valor que damos, por exemplo, à cidade do Porto porque é moderna, simpática, divertida e está na moda, mas cheia de história bem conservada? De recuperarmos coisas das nossas avós, mas chamarmos-lhes “vintage” ou originais em alguns casos, e darmos-lhes um valor acrescido? Até os mais “comerciais” tesourinhos trazem nostalgia, mas agora associada à procura… Eu quero a Anita! Eu quero “as” gorila! Eu quero os ach brito! Eu quero um pião! …and so on and so on. E não é que tudo voltou mesmo a aparecer?

Depois, lá vamos nós arranjar um companheiro para a corrida e embarcar num Google, por exemplo, que nos deixa ver mais depressa o que há lá fora (que já podemos espreitar sem pagar bilhete… mas também sem experimentar) e que também nos acorda para tantas coisas boas a visitar cá dentro. É nessa altura que vemos que não estamos nada atrás do que há por aí mas parece que só o valorizamos quando “afinamos as lentes” e “comparamos” melhor. Não fossem as tecnologias ajudar no serviço de oftalmologia. E não me entendam mal porque, se pudesse, estava sempre a viajar! Comprava muitos bilhetes online.

Ao mesmo tempo que a internet explodiu e nos mostra quase tudo, as redes sociais rebentaram e mostram-nos tudo… quase. Ou mais do que deviam em alguns casos. É toda uma comunidade virtual que bem pode ter vidas incubadas, criadas e condicionadas. Talvez por tantos excessos virtuais ficamos mais sedentos de valores terrenos, de experiências que escrevam histórias, de experiências que nos deixem viver histórias já escritas.

Este admirável mundo novo tecnológico ajudou-nos, por incrível que pareça, a conhecer melhor o nosso novo mundo admirável.

Não queremos ser como um centro de incubação e condicionamento onde se pode ler, numa placa, qualquer coisa como: Comunidade, identidade, estabilidade. (completamente condicionados) Queremos as três! Mas queremos vivê-las com emoções e sensações! (boas e más, faz parte)

“A ciência e a técnica seriam utilizadas como se tivessem sido feitas para o homem, e não (como são presentemente e como serão ainda mais no mais admirável dos novos mundos) como se o homem tivesse de ser adaptado e absorvido por elas.”  – In prefácio edição “Admirável Mundo Novo” 1946 | Aldous Huxley (edição original em 1932)