Off the record

Berg: “Tenho medo de ser esquecido”

Teófilo Sonnenberg, ou simplesmente Berg, de 43 anos, acaba de lançar o álbum homónimo, confirmando a visibilidade que “Factor X” lhe deu, nove meses após a vitória. Com uma carreira musical com cerca de três décadas, o artista alcançou o objetivo pretendido com a exposição mediática, mas não perdeu a humildade que o caracteriza. Dono de uns olhos azuis inebriantes e uma voz que conquista, Berg promete sucesso com onze temas da sua autoria em que toca vários instrumentos provando, uma vez mais, que tem um talento notável. Um trabalho impresso em autenticidade que representa o que é enquanto artista. Na cidade do Porto, à conversa com a Move Notícias, o músico falou sobre o novo trabalho, a paixão pela música, a infância, a fama e o medo do efémero.

Move Notícias – Recorda-se do seu primeiro contacto com a música?
Berg – Tinha uns sete anos quando um tio meu me ofereceu uma guitarra, e aos nove anos dei o meu primeiro concerto num bar, que se chamava 96, na Maia, com a GC Band. Foi assim que começou o gosto pela música. Os outros elementos eram mais velhos e tomavam conta de mim, eram uns irmãos mais velhos.

MN – Teve aulas de guitarra?
Berg – Não. Desde que o meu tio me deu a guitarra (ou acho que fui que me apoderei dela) comecei a pesquisar e a aprender sozinho, sou um auto didata.

MN – Quando é que decidiu que era da música que queria viver?
Berg – Acho que desde criança, provavelmente quando comecei a tocar guitarra. Cada pessoa tem a sua vocação e, apesar de estudar, a música sempre esteve em primeiro lugar. Para mim foi uma vida inteira de entrega e comprometimento com a música. Hei-de ser assim até morrer.

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MN – Começou profissionalmente com que idade?
Berg – Aos 14 anos. Aí já comecei a tocar em bandas a sério, já fazia concertos, ia a programas de televisão… Depois quando vivi na Suíça fiz parte de uma banda na escola, os Peacemakers. Chegamos a gravar um álbum que foi disco de platina lá. A partir daí comecei a trabalhar com artistas franceses, como John Mulof. Depois de viver 15 anos na Suíça voltei a Portugal pela Valentim de Carvalho e comecei a trabalhar com o Rui Veloso e outros artistas como os Santos & Pecadores, o Pedro Abrunhosa ou o Nuno Guerreiro.

MN – Neste tempo quantas tentativas fez para ter um álbum seu antes de concorrer ao “Factor X”?
Berg – Fiz duas tentativas. Quando vim para Portugal tinha também um álbum homónimo, que foi promovido, fazia um estilo muito funk, era os Expensive Soul de agora, e na altura não estava a dar. Depois fiz um álbum, que se chamava “Mundo”, do qual quero mesmo esquecer, porque foi um capítulo tenebroso da minha vida. Não pela música, mas pelas circunstâncias. Senti falta de apoio e de promoção. Foi mesmo um trabalho para a gaveta.

MN – Alguma vez pensou em desistir?
Berg – Sim, algumas vezes. Adoro cavalos e pensei que essa poderia ser uma carreira alternativa. Se deixasse a música ia provavelmente para esse ramo.

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MN – Qual foi o incentivou para continuar?
Berg – Acho que fui eu próprio, porque era uma coisa que pensava muito para mim e nunca falei muito sobre isso com outras pessoas. Mas pensei várias vezes, entretanto conheci o Rui (Veloso) e trabalhei com ele 12 anos, com digressões intensas. Estava completamente maravilhado. Quem não gostava de trabalhar com ele?

MN – Sentia-se na sombra?
Berg – O que sentia era que apesar de estar a trabalhar com a elite, de atuar em festivais do mundo inteiro, estava um bocadinho farto. Não me sentia na sombra nem queria tomar o lugar de ninguém, mas as pessoas diziam-me “cantas e tocas tão bem”. Depois da última experiência discográfica não achei que ia ter um álbum novamente. Estou muito feliz de ter a Sony como editora agora, porque está a fazer um trabalho fantástico.

MN – Como surgiu a ideia de concorrer ao “Factor X”?
Berg – Foi mesmo do dia para a noite. Estava a tocar com o Rui (Veloso) no Porto e estava hospedado no mesmo hotel que a produção do programa. Houve um colega que trabalha na produção, que me perguntou: “Porque é que não concorres?”. Disse que achava que não era para mim. Mas depois fui para o meu quarto, fiquei a remoer nisso e voltei para trás para saber como me podia inscrever. E assim foi…

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MN – Para chegar à final e vencer?
Berg – Era hipócrita se dissesse que não. Ia muito seguro, porque era o tudo ou nada. Dei tudo o que tinha e queria agarrar a oportunidade. O programa é genial pela exposição, as pessoas felizmente gostam de mim. Não mudei a minha maneira de ser. Já tenho tantos anos disto que sei o que é efémero. Tenho noção que tão depressa estás lá em cima, como de repente desces.

MN – Antes do “Factor X” houve outros programas. Nunca quis concorrer…
Berg – Não. Os programas anteriores não me diziam nada. O “Factor X” tem uma excelente produção e gosto do formato. Acho que foi tudo uma questão de timing.

MN – Venceu o programa há nove meses. Que impacto teve na sua vida, não só a nível profissional, mas também pessoal?
Berg – Tem coisas boas e más. Apesar de continuar a ser quem era, tenho mais cuidado com aquilo que faço em público. Depois é muito bom andar na rua e ser abordado, não me canso.

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MN – Vai deixar de tocar com o Rui Veloso?
Berg – Ele fez agora uma pausa. Mas independentemente de todo o sucesso que possa vir a ter, se o Rui me chamar eu estou com ele. Adoro tocar com ele.

MN – Como é trabalhar a solo?
Berg – Está a ser ótimo. Eu tinha duas opções: ou ia fazer discoteca e dinheiro imediato e tinha uma carreira de dois meses ou então dividia o bolo com uma agência, uma editora e fazer um trabalho sério… Tenho quase a mesma equipa do Rui Veloso. Escolhi uma equipa profissional para o meu trabalho ter qualidade, nem que isso signifique que num concerto vá ganhar menos dinheiro.

MN – Pode descrever este álbum?
Berg – Estou muito orgulhoso deste disco, porque reflete aquilo que sou enquanto artista. É um trabalho versátil, há soul, há funk… “Berg” é um trabalho verdadeiro, é quem eu sou, sem medos.

MN – O álbum tem a versão de “Chuva”…
Berg – Achei que era um tema fantástico quando ouvi a Mariza cantar. Quando fui convidado para os 30 anos de carreira do Jorge Fernando (o autor da música) comecei a tocar e ele disse para a tocar no concerto. Foi esta versão que cantei no “Factor X”.

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MN – Tem tido feedback do público?
Berg – Está a ser fantástico, o disco está a vender bem. Já estou no top ten do iTunes.

MN – O single “Tell Me” esteve no 1º lugar do iTunes, logo após ter vencido o programa. Ficou surpreendido?
Berg – Sim, sem dúvida. Curiosamente esse era um tema que estava na gaveta e achei era a altura para o lançar. Todas as músicas do álbum foram compostas após o programa, por isso é que o disco demorou mais tempo a sair.

MN – Como foi trabalhar com a Sónia Tavares?
Berg – A Sónia é uma querida e o que gosto nela é que é uma pessoa frontal, não tem papas na língua. Por outro lado, defendia-me com unhas e dentes. Agora trabalho com o Paulo Junqueiro, que também é uma pessoa excelente e com muita sensibilidade.

MN – Há muitas pessoas que concorreram a programas do género e com o tempo caíram no esquecimento. Tem medo que isso lhe aconteça?
Berg – Tenho um bocado de medo de ser esquecido. Por isso luto para que isso não aconteça. Daí fazer música em outros idiomas, para tentar a internacionalização.

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MN – Como reagiu a sua família a todo o sucesso?
Berg – Ao princípio o meu filho mais novo, Pedro, estranhou quando me via rodeado de muita gente. Agora já se habituou. A minha filha, Mariana, é a minha maior fã.

MN – Está casado há 14 anos com a Ana. Teve o apoio dela?
Berg – A Ana é uma companheira, apoiou-me a 100%, incansavelmente. Ela conheceu-me durante um concerto. Ela tem uma grande paixão por pássaros e na altura andava sempre com um periquito no ombro. Eu tenho uma fobia a pássaros, mas isso não me fez afastar dela. (risos)

MN – Lida bem com a curiosidade sobre a sua vida pessoal?
Berg – Tento proteger-me sendo eu próprio. Não me ponho muito a jeito para chamar à atenção. Sou um homem de família normal, como tantos outros. Claro, que depois há uma pequena percentagem de revistas sensacionalistas, que contam histórias completamente loucas. Ainda não me tocou muito isso… Mas tento filtrar, não leio essas notícias.

MN – O seu filho também gosta de música. Acha que vai haver outro músico em sua casa?
Berg – Acho que sim, embora não queira que isso aconteça. Eu sempre tive muita sorte, sempre trabalhei na música mas tenho noção que isso não acontece a muitas pessoas.